• Puxar a Brasa à Sardinha 

A expressão existe em espanhol ("arrimar el ascua a su sardina"). Pensa-se que a origem da expressão é antiga e é atribuída às sardinhas que os trabalhadores nos cortiços (pequenas casas habitadas por muitas pessoas) comiam. Para assarem essas sardinhas, recorriam às brasas dos candeeiros que serviam de iluminação doméstica. Retirar (puxar) as brasas para assar as sardinhas apagava essas fontes de luz nas casas. 

Desde os primeiros tempos da monarquia portuguesa que há registos e referências à pesca da sardinha e de como este peixe fazia parte da alimentação da população pobre de Lisboa, mais do que a comida fresca, salgada ou defumada. Existiam lugares de frigideiro, uns poisos ambulantes onde, à hora das refeições, se assavam sardinhas e é de imaginar que também aqui cada um tentava puxar a brasa à sua sardinha. 

  • Carapau de corrida 

Não há uma explicação certa para a origem da expressão, mas uma das duas versões plausíveis é a de que os carapaus, mesmo sendo uma espécie de peixe que é rápida, acabam apanhados nas redes de pesca. Podemos daqui deduzir que mesmo os melhores - ou os que se acham melhores - e armados em espertos podem acabar por ser apanhados ou desmascarados. 

Outra versão alega que a expressão pode ter nascido nas lotas, onde o peixe era vendido em leilões invertidos. Começava por se anunciar um preço mais alto e depois ia-se descendo até que alguém o comprasse. O peixe mais caro e de melhor qualidade era vendido em primeiro lugar e para o fim ficavam os peixes de menor qualidade. Conta-se que as peixeiras que compravam esse peixe de fim da lota, mais barato, iam a correr até à vila, para tentarem chegar ao mesmo tempo que as primeiras peixeiras, que já lá estavam a vender o peixe mais caro e de melhor qualidade. As peixeiras que chegavam em último tentavam assim enganar os clientes vendendo o peixe ao mesmo preço que as outras. Só que nem todos se deixavam enganar por esta esperteza saloia: alguns fregueses percebiam que aquele era... "carapau de corrida", um peixe de menor qualidade.  

  • Fazer uma vaquinha 

A origem da expressão - que na verdade significa dividir uma despesa por várias pessoas, em partes iguais -, estará nas primeiras décadas do século xx, quando, no Brasil, os clubes de futebol e os jogadores não tinham receitas financeiras. Os adeptos juntavam-se numa colecta de fundos para assim conseguirem premiar os jogadores em caso de vitória. A quantia do prémio tinha o nome de um dos animais no jogo do bicho, uma bolsa ilegal de apostas em números que representam animais, que ainda hoje existe no Brasil. Assim, cinco mil réis correspondia ao "prémio do cão", porque esse animal representa o cinco no jogo do bicho. O prémio máximo era de vinte e cinco mil réis, na altura - ainda hoje o número da vaca é o 25. 

  • Paredes têm ouvidos 

Se os romanos se tivessem lembrado de suplicar às paredes, talvez pudessem ter tido mais sorte. É que as paredes têm ouvidos. A expressão serve para dizer a alguém que é melhor falar mais baixo, sob pena de ser escutado por quem está à volta. A culpa é de uma mulher, Catarina de Médicis, nobre italiana e rainha consorte de França no século xvi, por casamento com Henrique II. Mulher astuciosa e sedenta de poder, durante mais de 50 anos exerceu o poder através do marido e dos três filhos que chegaram a monarcas: Francisco II, Carlos IX e Henrique III. Consta que, para manter o controlo sobre tudo, usava várias artimanhas. A mais célebre terá sido a de ter ligado, por tubos acústicos secretos, as salas do palácio real, o Louvre, para poder ouvir tudo o que se dizia nos locais mais afastados. Deu ouvidos às paredes e reinou até morrer. 

  • Obras de Santa Engrácia 

A história do templo de Santa Engrácia, perto do Campo de Santa Clara - mais conhecido hoje em dia como o Panteão Nacional -, começa no século xvi, com a infanta D. Maria. Filha do rei D. Manuel e da sua terceira esposa, D. Leonor, chegou a ser a mulher mais rica de Portugal no seu tempo. A sua instrução e virtudes ganharam fama, teve muitos pretendentes, mas morreu solteira, sem deixar filhos. Dedicou a vida à Igreja, fundou vários conventos e, entre as várias obras que patrocinou, estava a Igreja de Santa Engrácia, que mandou construir em 1568. 

O problema foi que se seguiram 300 anos de peripécias... Uma tempestade praticamente destruiu o edifício em 1681 e, nos séculos seguintes, houve várias alterações de planos. Desde falta de dinheiro à falta de interesse ou de mão-de-obra, houve tudo e mais um par de botas para justificar a demora nas obras... Ainda inacabada, a Igreja de Santa Engrácia passou a ter estatuto de monumento nacional em 1910, e em 1916 tornou-se o Panteão Nacional. A obra só se completou por ordem de Salazar, quase 300 anos depois, em 1966! 

Só isto justifica a expressão, mas existe uma outra versão, mais romântica. 

No primeiro mês do ano de 1630, um cristão-novo de nome Simão Pires Solis é acusado de profanar o templo e de roubar as hóstias do relicário da capela-mor. Reza a lenda que o homem tinha sido visto a rondar a igreja na noite do assalto, montado num cavalo que tinha os cascos embrulhados em panos, para que não fizessem barulho. Simão Solis jura inocência, mas acaba por ser queimado vivo no Campo de Santa Clara. Na hora da morte, lança uma maldição à igreja ainda em construção, clamando: "É tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem." Mais tarde, descobriu-se a verdadeira razão da presença de Solis perto da igreja naquela noite: o rapaz afinal apenas esperava por Violante, filha de um fidalgo e noviça no Convento de Santa Clara? Apaixonados, teriam fugido...  

  • Até vir a mulher da fava rica 

"Olha a fava riiiiiiiiica!" foi dos últimos pregões a ouvir-se em Lisboa, já o século XX tinha começado. Estas frases gritadas, com que os vendedores ambulantes anunciavam os seus produtos, soavam nas ruas da capital logo às primeiras horas da manhã. As mulheres que apregoavam a fava rica percorriam alguns dos bairros mais populares da cidade, como a Graça ou a Madragoa, de panela à cabeça, e o pregão servia para anunciar a sopa quente de fava que vendiam para confortar os estômagos de quem se levantava cedo para ir trabalhar. Ou de quem estava a chegar a casa depois de uma noite de trabalho. A sopa era tão boa que havia mesmo quem não se importasse de esperar - às vezes muito - que chegasse a mulher da fava-rica. Consta que valia a pena! 

Os ingredientes da receita incluíam fava seca, demolhada durante longas horas, cozida e depois refogada com azeite e alhos. Da história do pregão só resta mesmo a memória e a expressão.  

  • De partir o coco a rir 

No período das Descobertas, os portugueses chamaram coco a um novo fruto que encontraram porque, visto de um certo ângulo, parecia a cara de um monstro imaginário com que se assustava as crianças, uma espécie de bicho-papão - ao qual também se dava o nome de coco. É o que conta o historiador João de Barros nas Décadas da Ásia: "[...] por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco, nome imposto pelas mulheres a qualquer coisa, com que querem fazer medo às crianças, o qual nome assim lhe ficou, que ninguém lhe sabe outro [...]." Se o fruto fosse usado para representar o monstro, percebe-se a alegria das crianças quando o coco era partido. Entre as várias interpretações, assim como o coco assustava, a lenda conta que a representação feminina, a coca, ficava atenta às crianças mais desobedientes, à espera que se portassem mal... ficava por isso "à coca". 

  • Tirar o cavalinho da chuva 

O cavalo é um dos meios de transporte mais antigos do mundo. Na era medieval, a maneira como alguém amarrava o cavalo ao chegar ao destino - na rua, ou não - era revelador da sua intenção: se um visitante ou viajante deixava o cavalo num sítio abrigado, era sinal de que a paragem ia ser longa. Se o deixava à porta, no exterior, e, logo, sujeito a eventuais intempéries, significava que não tencionava demorar-se muito, que a estada deveria ser curta. Portanto, para estadas mais prolongadas ou tarefas mais complicadas, seria melhor abrigar o cavalo - tirá-lo da chuva. 

  • Casa da mãe Joana 

Joana foi uma mulher que viveu no século XIV. Era condessa de Provença e rainha de Nápoles. A biografia diz que em 1347, aos 21 anos, regulamentou os bordéis da cidade de Avignon, para onde fugiu depois de (há duas versões) ter sido acusada do assassínio do marido ou excomungada pela Igreja devido à vida desregrada que levava. Uma das normas dizia: o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar. "Casa da mãe Joana" passou a ser sinónimo de uma casa de prostituição. 

  • São outros quinhentos

A expressão virá desde o século XIII, quando os fidalgos na Península Ibérica podiam pedir uma indemnização por calúnia ou injúria no valor de 500 soldos. Em caso de reincidência, eram outros 500. Sobre esta expressão há ainda uma interpretação com traços de piada: um homem vem do interior do país para tentar a sorte na capital e deixa quinhentos mil réis para o padre guardar. Depois de vários anos sem aparecer, voltou e foi pedir o dinheiro. O padre, que o tinha gasto na reforma da igreja, alegou que não tinha ficado com o dinheiro. O homem protestou e um coronel que ouvia a conversa afirmou: "Foi comigo que você deixou o dinheiro." Ao que o homem respondeu: "Isso são outros quinhentos, coronel!"