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Terapias


Segunda-feira, 15.02.16

Dicas para enlutados

O luto é um processo normal e que precisa ser vivido para ser superado. Ao longo da minha carreira na clínica e na área da saúde acompanhei inúmeras pessoas em processos de luto. Pessoas que perderam seus pais, cônjuges, filhos, irmão, avós, amigos, bichinhos de estimação, pacientes, etc. E posso afirmar que nenhuma perda é igual a outra, mas sim uma experiência única e puramente individual. Depende da história construída com que se perdeu, dos laços que as envolviam, dos papéis que desempenhavam umas nas vidas das outras, da resiliência de quem sofre a perda e de como tudo aconteceu.

Tendo eu também vivido minhas próprias perdas, pude sentir na pele o quão difícil é superar um momento de luto, a qual considero uma das experiências de maior sofrimento que todos nós vamos experimentar um dia.

Institivamente nos ligamos à outras pessoas, seres ou objetos através de fortes laços afetivos, seja para nossa sobrevivência, para nossa segurança e proteção ou para nosso desenvolvimento enquanto seres humanos. As relações nos enriquecem e nos transformam, dão o real sentido a nossa existência. Nossos afetos serão nossos maiores tesouros adquiridos na vida.

E quando eles se separam de nós sentimos uma dor dilacerante, um vazio incomensurável da ausência. Porém, se o destino quis que ficássemos e continuássemos vivendo, precisaremos encontrar meios para superar tamanho sofrimento e seguir em frente, junto com os demais afetos que também ficaram.

Em minha caminhada vi muitas pessoas terem dificuldades em enfrentar a dura realidade desse momento, como também presenciei outras que, querendo ajudar, acabavam por suprimir no enlutado a expressão emocional do seu luto, aspecto fundamental para a superação.

Assim, como medida preventiva elaborei algumas dicas para as pessoas que perderam um ente querido ou para aqueles que estão à sua volta. Penso que, em algum momento estaremos de um ou outro lado dessa história, então sempre é bom refletir sobre o que fazer nesses momentos de dor.

 

 

1- Respeite o momento do Choque.

Todos nós, quando sofremos uma perda temos um momento de “choque” inicial. Essa reação acontece porque nosso Ego não é capaz de absorver a realidade da notícia e, por defesa, há uma paralisia das emoções e da capacidade de perceber o entorno. Em geral, essa reação pode durar minutos, horas ou dias e a pessoa tem a tendência a manter a vida interior rica de ilusões em relação ao ser que partiu. O choque pode desencadear um verdadeiro “apagão” de consciência ou reações corporais como tremores, desmaios, vômitos e diarreias. A pessoa também pode estar em choque quando apresenta reações aparentemente frias e indiferentes ao que está acontecendo. Respeite esse momento e se você estiver ao lado de alguém em choque acolha a pessoa enlutada, que aos poucos irá conseguir ir compreendendo a realidade.

 

 

2- Cada um tem seu tempo para encarar a realidade da perda.

É comum que pessoas enlutadas passem por uma fase de negação, demonstrando uma resistência à perda para evitar o desequilíbrio psíquico. Nestes casos, a expressão emocional pode ficar bloqueada, ou tenta-se negar a perda procurando esquecer o ocorrido ou evitando pensar no assunto. Também pode haver uma reação hiperativa, onde a pessoa age como se nada tivesse acontecido e busca se entreter no máximo de atividades possíveis para evitar entrar em contato com sua dor. Este tende a ser um período passageiro, mas preocupante quando se estende demais, sem o espaço para as demais reações naturais. O uso de substância psicoativas (calmantes, drogas e álcool) nesse momento pode ser outra tentativa de fuga encontrada. Assim, é preciso ficar atento a presença de tais reações, e buscar ajuda especializada quando sentir necessidade.

 

 

3- O luto traz uma avalanche de emoções.

Os mais diversos sentimentos podem advir de um luto! Tristeza, Raiva, Revolta, Alívio, Culpa, Medo, Impotência, Ansiedade… enfim, as mais profundas emoções podem ser despertadas. O luto é um processo doloroso e é preciso fazer um verdadeiro trabalho de superação. A expressividade emocional é fundamental para que a pessoa possa digerir a realidade da perda. Não evite o contato com seu sofrimento e procure as pessoas realmente disponíveis emocionalmente para contar sobre o que está sentindo. Seus sentimentos são legítimos e merecem ser respeitados e acolhidos.

 

 

4- É preciso chorar a sua dor.

Você não pode escolher não sofrer! O luto é uma experiência altamente dolorosa e que realmente abala qualquer estrutura. Bloquear, inibir ou adiar o seu luto não irá ajudar. Chorar, falar somente sobre o luto, limitar a sua vida a esse acontecimento por um tempo é natural e faz parte do processo de assimilação da realidade. Lembre-se que perder alguém é algo maior que o Ego consegue abarcar de uma vez e, por isso, precisa ser digerido lentamente.

 

 

5- Nunca estimule alguém a “sair” logo do seu luto.

Pedir ou estimular que uma pessoa enlutada se recupere rápido ou não expresse suas emoções é totalmente desaconselhável. Esta atitude, ao invés de ajudar, pode bloquear uma reação normal de luto e desencadear outros problemas, como a hiperatividade ou até mesmo processos depressivos e de adoecimento. Cada um tem seu tempo para superar o luto e tocar a vida em frente. Procure ser sensível a esse momento e acolher o enlutado encorajando-o a expressar seus sentimentos e a encontrar seus recursos emocionais para lidar com a perda.

 

 

6- Nos sentimos impotentes diante da dor de alguém.

Realmente quando o outro sofre uma perda somos relativamente impotentes frente ao que ele está sentindo. Não podemos apagar o que aconteceu e nem evitar a avalanche de reações e sentimentos que eclodem a partir do luto. Mas, estar ao lado da pessoa, manter-se presente, escutá-la e acolhê-la emocionalmente (respeitando as dicas anteriores) é algo que você pode fazer e que é de extrema importância neste momento.

 

7- Cada membro da família está vivendo um luto diferente.

Dentro das famílias cada um irá reagir de maneira individual a perda sofrida e pode acontecer de um familiar achar que o outro está indo muito rápido ou muito devagar com seu luto. Haverá aqueles que precisarão falar, contar histórias, assistir vídeos antigos, ver e rever fotos, passar dias em prantos. Mas, haverá também, aqueles que irão querer ficar calados, silenciosos em sua dor. Nenhuma reação é melhor que a outra. As cobranças, exigências e julgamentos dentro das famílias acontecem porque cada um de nós tem seus conceitos e crenças sobre como devemos nos comportar diante de uma situação. Porém, é preciso esclarecer que, a forma como cada um vive seu luto varia conforme suas características de personalidade, seus recursos de enfrentamento e suas defesas, sua história de vida, e do relacionamento e vínculo que possuía com o ente querido. Quando o vínculo era muito forte ou quando existia uma história de relacionamento conturbada e conflituosa que não se resolveu, pode ser mais difícil para o enlutado lidar com toda a situação. Por outro lado, quando não existia uma ligação afetiva entre a pessoa e o ser perdido pode ser que ela lide mais facilmente com a perda. São variações que precisamos estar atentos para perceber e assim, compreender para não julgar. Exercitar a empatia dentro da família é essencial para a resolução do luto de cada membro, bem como para a saúde do relacionamento familiar.

 

 

8- É preciso consolar a sua dor.

Superar um luto leva tempo e cada um tem o seu período para digerir sua perda. É natural que você sofra por um tempo, que tenha dificuldade para encarar a realidade, que sinta vontade de ficar isolado, que a vida perca o gosto por um tempo. Isso faz parte do processo. Mas, você não precisa passar por isso sozinho. Consolar sua dor com pessoas que você confia e se sente à vontade para partilhar este momento é um importante caminho para a superação. As pessoas que gostam de você estarão prontas para te amparar e ajudar nesse momento. Estarão ao seu lado para chorar e rir com você, para te ouvir e te falar palavras de conforto, para estar simplesmente ao seu lado quando você precisar se apoiar ou quando sentir que vai cair. Conte com elas!

 

 

9- Procure uma maneira para expressar o que você está sentindo.

Redigir cartas para o ente querido, escrever poesias, textos, compor músicas, expressar-se através da pintura, das artes plásticas, da dança ou qualquer outro recurso que lhe parecer viável é uma excelente via para expressar suas emoções sobre o luto. Recurso ricamente conhecido pelos artistas, a arte e a escrita nos ajudam a nomear, discriminar e expressar o que estamos sentindo, oferecendo um significado a nossa experiência, servindo de um verdadeiro bálsamo ao nosso sofrimento e impedindo que a dor fique registrada de maneira não compreensível em nossa mente.

 

 

10- Você não precisa ficar triste o tempo todo.

Uma das coisas que sempre ficam no imaginário social é que a pessoa enlutada deve estar triste e sofrendo. Isso funciona como prova de amor e de que ela é uma boa pessoa. Porém, essa crença é totalmente inadequada. O luto é um processo muito complexo, e é natural que, enquanto a pessoa elabora a sua perda sinta momentos de forte tristeza, mas também passe por momentos de alegria e distração. A pessoa pode se alegrar e rir ao lembrar dos bons momentos com o ser perdido, pode ficar feliz por estar com pessoas que ama e que continuam fazendo parte da sua vida. O momento da despedida também pode ser o do reencontro de familiares e amigos que há muito não se viam e que, nesse espaço, resgatam as histórias familiares, permeadas de boas lembranças. Além disso, a pessoa enlutada também precisará se distrair vez ou outra para “dar um tempo” para si mesma, descansar da sua dor e recuperar as forças. Permita-se sentir todos os sentimentos, mas não só os negativos. Deixar-se levar por bons sentimentos também te ajudarão a seguir em frente.

 

 

11- É preciso perdoar.

Quando alguém nos deixa, uma imensidão de sentimentos pode nos invadir. Entre eles a raiva, a revolta e a culpa podem dificultar a elaboração de um luto. Você pode ficar com raiva porque a pessoa te deixou, porque acha que, nem ela e nem você, mereciam isso, porque você ficou, ou porque acha que houve algum erro, que se evitado nada disso estaria acontecendo. Você pode culpar alguém, mundo, Deus, o ente querido ou a si mesmo. Todo sentimento é legitimo e precisa ser vivenciado, mas agarrar-se a ele não aliviará a sua dor. Então é preciso buscar o perdão, compreender que muitas coisas fogem ao seu controle e ao do outro também. Precisamos aceitar que somos vulneráveis e factíveis ao erro. Que a vida tem um curso que extrapola nosso desejo, nosso controle e nossa onipotência. Por isso, necessitamos buscar a compreensão e a compaixão para alcançar o perdão!

 

 

12- Vai chegar a hora de dar destino aos objetos do ser perdido.
Faz parte do processo de luto decidir o que será feito com os pertences do ente querido. Roupas, objetos, lembranças, tudo aquilo que era da pessoa precisa ganhar um destino. Você pode escolher doar, vender ou até distribuir alguns objetos mais significativos entre as pessoas que ele queria bem. Também pode escolher algum objeto guardar consigo como uma herança que ele te deixou. Porém precisa tomar cuidado para não se manter apegado às coisas materiais que pertenciam ao ente perdido. Manter quartos intactos, resistir em mexer ou não se desfazer dos objetos pode ser um sinal de dificuldade em processar a perda sofrida.

 

 

13- Receba sua herança.

Mais que os bens materiais, seu ente querido com certeza te deixou de herança uma enormidade de vivências, memórias e lições das quais você nunca irá se esquecer. Recebe esse tesouro e o guarde em seu coração para todos os momentos. Quando precisar de um conselho que somente esta pessoa te daria, converse com seu coração e lá encontra a resposta que Ele te daria. Busque em suas memórias seu abraço, seu afago, seu riso, sua história. Assim você irá perceber que dentro de ti Ele ainda vive e será guardado para sempre.

 

 

14- É possível encontrar um sentido para a perda.

Muitas pessoas acham que encontrar um sentido para a perda é simplesmente buscar uma justificativa para o ocorrido, mas na verdade é muito mais que isso. Percebemos que muitas pessoas que sofrem uma perda desenvolvem novos valores, se tornam mais espiritualizadas ou se engajam em novos papéis na sociedade. É comum vermos mães que perderam filhos em situação de violência se engajando em ONGs ou grupos de mães atuantes, por exemplo. Esses novos caminhos, não irão fazer com que a pessoa enlutada encontre um significado para a sua perda, mas poderão ajuda-las a dar um novo sentindo para a sua existência sem o ser perdido.

 

 

15- É preciso continuar vivendo.

Por mais dura que seja a realidade da perda, em algum momento você estará pronto para seguir em frente. Irá entender que não é possível voltar atrás e que existem outras coisas que você precisa viver, outras pessoas que precisam de você, outros vínculos para cuidar. Isso não significa que você irá esquecer a pessoa que perdeu. Tudo o que você viveu ao lado dela estará na sua memória para sempre e estará sempre vivo dentro de você. Você sentirá saudades, terá episódios de choro em menor intensidade e se sentirá mais leve. Isso é um bom sinal, não se culpe. Pense que a pessoa que se foi iria gostar que você continuasse vivendo e sonhando!

Espero que essas dicas possam ajudá-los nesse momento e caso sintam que não estão conseguindo seguir sozinhos, não hesitem em procurar ajuda especializada. Hoje existem vários grupos de suporte e acolhimento para enlutados e psicólogos especialistas no assunto e que estão prontos para auxilia-lo nessa superação.
Por fim deixo para vocês um trecho de uma música de Milton Nascimento que considero um verdadeiro trabalho de elaboração de luto.



Ler mais: http://www.psicologiasdobrasil.com.br/respeitando-um-momento-de-luto-15-dicas-para-enlutados-e-para-quem-esta-a-sua-volta/#ixzz3wIlZH8a0

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autoria Sandra P. às 07:00

Sábado, 13.02.16

O que fazer e não fazer quando a criança está de luto

Para nós, adultos, pode ser um grande desafio lidar com a morte e, claro, para as crianças também. Normalmente, uma criança que perdeu alguém próximo só quer continuar com a sua vida normal. Não quer mais mudanças. Quer manter as suas atividades “como se nada tivesse acontecido”. Ao mesmo tempo, quer que os adultos entendam a dor que sente e saibam o momento exato em que necessita de um abraço.

Mikaela Övén

— Serás sempre o meu pequeno Benny — sussurrou ela.
Ben lembrou-se de como costumava odiar esse nome. Agora adorava-o.
— Eu sei — disse ele, com um sorriso. — E tu serás sempre a minha avozinha gângster.
Mais tarde, já a avó tinha partido, Ben seguia em silêncio no banco de trás do carro dos pais, a caminho de casa. Estavam todos cansados de chorar.
Já se via imensa gente nas ruas a fazer compras de Natal, as estradas estavam cheias de carros e havia uma longa fila para o cinema. Ben não conseguia perceber como era possível a vida correr normalmente quando algo tão grave e importante tinha acabado de acontecer.
O carro virou a esquina e aproximou-se das filas de lojas.
— Posso ir num instante à loja do Raj, por favor? — perguntou Ben. — Não demoro muito.
O pai estacionou o carro e Ben foi sozinho até à loja. Caía uma neve muito leve.
PLIM!, fez a campainha quando a porta abriu.
— Ahh, jovem Ben! — exclamou Raj. O lojista percebeu o ar triste de Ben. — Aconteceu alguma coisa?
— Sim, Raj… — balbuciou Ben. — A minha avó acaba de morrer.
De alguma forma, dizê-lo em voz alta fez com que começasse outra vez a chorar. Raj apressou-se a sair de trás do balcão e deu um grande abraço a Ben.
— Oh, Ben, lamento imenso. Há algum tempo que não a via e calculei que não estivesse bem.
— Pois não. Raj, eu só queria dizer — disse Ben, fungando — muito obrigado por me teres ralhado daquela vez. Tu tinhas razão, a minha avó não era nada chata. Ela era maravilhosa.
— A minha ideia não era ralhar contigo, Ben. Só achei que nunca te tinhas dado ao trabalho de conhecer verdadeiramente a tua avó.
— E tinhas razão. Havia tanta coisa que eu nem imaginava. — Ben limpou as lágrimas com a manga.

Avozinha Gângster, David Walliams, Porto Editora, 2014

 

O processo de luto passa, normalmente, por três fases. Numa primeira fase, pode haver negação, choque e apatia. Na segunda fase, a do luto mais agudo, pode ter sentimentos como a tristeza, depressão, raiva, culpa, ansiedade, medo e dor física. Na última fase, dá-se início o processo de adaptação e aceitação da nova realidade.

A propósito deste tema, o psicólogo e autor Dr. Sameet Kumar faz a distinção entre “luto agudo” e “luto subtil”. O “luto agudo” corresponde àqueles momentos mais duros, mais difíceis de lidar, que se sentem como inultrapassáveis; o “luto subtil” refere-se aos momentos em que parece que estamos a respirar mais facilmente, a sentir as coisas com muito menos intensidade. Podemos ter a certeza de que a criança irá passar tanto por uma experiência como por outra, várias vezes.

 

De que forma a criança expressa o luto?

Quando uma criança sofre, queremos cuidar dela, protegê-la e confortá-la. Mas temos de calibrar o momento certo para o fazer. As crianças não conseguem nem querem ficar com a dor psicológica da perda durante muito tempo seguido. Por isso, é habitual, por exemplo, continuarem a brincar ou a fazer outras coisas para se livrarem dela. Mas, de repente, a dor pode reaparecer, passando de “subtil” a “aguda”, no meio de uma brincadeira ou outra situação que lembre a perda. É como se o luto chegasse, ficasse um pouco e partisse. Vem, fica e vai. Aliás, é o que acontece com todos os sentimentos. Quanto mais permitirmos e aceitarmos este processo, melhor. E, felizmente, as crianças têm bastante facilidade em passar da fase “aguda” à “subtil”.

Uma criança tem dificuldade em entender as consequências da perda, e demora a perceber o significado da morte e que a pessoa não irá voltar. Tende também a focar-se no aqui e no agora e são muitas as vezes em que os adultos interpretam isso como se ela “não se importasse”, “já se tenha esquecido”, “já se tenha habituado” ou “já tenha ultrapassado”, o que não é bem verdade e pode até levar a criança a sentir-se incompreendida. O mais provável é que dentro da cabeça da criança se estejam a formular muitas perguntas, mesmo que ela não as verbalize.

Uma criança que perde alguém muito próximo como um pai, uma mãe ou, por exemplo, uma avó com um papel importante na sua educação pode perder também a confiança na vida, nas outras pessoas, no futuro e em si própria. De repente, aquela pessoa que ela achou que ia estar sempre presente, já não está.

Além ou em vez do choro, a criança pode apresentar um comportamento agressivo e de muita raiva. Também pode exprimir a sua desilusão ou culpa, comportando-se de forma mais imatura, regredindo no comportamento. Pode sentir dificuldades em dormir e começar a fazer chichi na cama. E dar início a um rol de perguntas, que podem ser surpreendentes (e não é necessário saber a resposta a todas).

Como apoiar a criança?

    • Esteja disponível para ouvir os pensamentos e as histórias da criança. Deixe-a fazer perguntas e responda o mais honestamente possível. Limite-se a responder à pergunta, nem mais, nem menos, e não tenha medo de dizer que não sabe. Devolva com a pergunta “O que é que tu achas?”. Procurem as respostas em conjunto.
    • Reconheça a dor da criança. Abra a possibilidade de ela se expressar, ao seu jeito. Ou seja, sem pressionar. Se a criança está a chorar é melhor dar-lhe um abraço e dizer algo como “Eu sei que dói!”, ao invés de tentar proteger a criança da dor com distrações, conselhos e prendas. Não diga à criança que sabe como é quando na realidade não sabe. Evite os obstáculos à comunicação
    • Procure estar realmente presente quando está com a criança. Se também está de luto pode ser um grande desafio, mas tente ao máximo manter-se conscientemente presente com a criança no aqui e agora.
    • Seja honesto. As crianças sabem sempre quando as coisas não estão bem. Comunique com ela de forma simples, honesta e clara sobre o que se está a passar e o que se passou. Diga o que sente. Não minta.
    • Se a criança nunca tomar a iniciativa para falar, faça perguntas. É comum a criança guardar o seu sofrimento para não fazer os adultos, que também estão a sofrer, sofrer mais. Os adultos interpretam isso como sinal de que “já passou” e não querem lembrar à criança o sucedido para que ela não volte a entristecer.
    • Crie estrutura e segurança. Todos temos necessidade de sentir segurança e certeza nas nossas vidas. Quando alguém próximo morre, essas necessidades são abaladas. Ajude a criança a manter rotinas, rituais e tradições, e/ou a criar novas rotinas, novos rituais e novas tradições que possam criar uma nova base de estrutura e segurança.
    • Seja um porto seguro. Para satisfazer as necessidades de segurança e controlo, a criança também tem de saber que é cuidada. Que existe alguém que pode oferecer um espaço emocional e fisicamente seguro para a sua dor. É também relevante evitar que a criança sinta que tem de assumir responsabilidade pela dor das outras pessoas.
    • Recorra à criatividade! A atividade criativa é uma ferramenta importante para trabalhar a dor da perda. Ofereça à criança opções diversas para exprimir as suas emoções. Pode ser desenhando, escrevendo, fazendo trabalhos manuais, brincando, ouvindo música, etc.
    • Recorra à atividade física! Emoções fortes e desafiantes (como, por exemplo, o luto exprimido em agressividade e raiva) podem ser libertas através de atividade física.
    • Pratique Mindfulness, sozinho e com a criança. Procure exercícios que sejam adequados para a idade, sem pressionar e sem expectativas.
    • Cuide de si! Quanto melhor se sentir, melhor apoio representará para o seu filho.
    • Peça ajuda! Tanto ajuda prática como mental.

 

 

Quando deve procurar ajuda profissional?

Deve procurar ajuda profissional se sentir que a criança continua a apresentar dificuldades durante muito tempo; nomeadamente em dormir, em concentrar-se, problemas com amigos e na escola ou um comportamento depressivo.

O luto, por norma, é trabalhoso, doloroso e cansativo. Tanto física como emocionalmente. É importante lembrar-se de que cada criança tem as suas reações e o seu processo de luto, e que cabe ao adulto adaptar-se às suas necessidades. E, neste processo, esteja consciente de que os seus dois contributos mais poderosos poderão ser a sua presença consciente e o reconhecimento dos estados emocionais da criança.

 

 

Mikaela Övén-Estudou ciências comportamentais na Universidade de Lund, Suécia, e é licenciada em Recursos Humanos com a especialidade de desenvolvimento de competências pela Universidade de Malmo, Suécia. 



Ler mais: http://www.psicologiasdobrasil.com.br/o-que-fazer-e-nao-fazer-quando-a-crianca-esta-de-luto/#ixzz3wIkvk0lY

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autoria Sandra P. às 08:12

Domingo, 07.02.16

Top 10 filmes com um tema delicado; a perda de um filho

A morte de um filho é um tema delicado, tão sofrido que poucos se atrevem a sequer pensar nessa possibilidade, subverte uma ordem que supomos natural e pede recursos para ampliarmos esse olhar e compreendermos um pouco mais essa vivência.

 

Listo 10 filmes que nos dão um recorte dessa dor:

 

1-REINE SOBRE MIM: Adam Sandler, Don Cheadle, JadaPinkett Smith e Liv Tyler estrelam essa história sobre Charlie Fineman (Sandler) que entrou em depressão logo após a morte de sua esposa e filhos. A vida de Charlie melhora muito depois de reencontrar um antigo amigo de faculdade, Alan Johnson (Cheadle), cuja vida está dividida entre o trabalho e a família. O reencontro dos amigos fortaleceu o antigo e esquecido vínculo de amizade e os dois passaram a viver melhor emocionalmente.

 

2- O QUARTO DO FILHO: Giovanni (Nanni Moretti) é um psicanalista que reside e trabalha na cidade de Ancona, na Itália. Ele é casado com Paola (Laura Morante) e tem dois filhos: a menina Irene (Jasmine Trinca) e o jovem Andrea (Giuseppe Sanfelice). Sua vida transcorre tranqüila, dividida entre a família e o consultório, até que uma tragédia a transtorna completamente. Para atender ao chamado urgente de um paciente, Giovanni deixa de acompanhar o filho à praia e nesse passeio o rapaz morre afogado. A família, é claro, ressente-se profundamente com a morte e Giovanni sofre uma forte sensação de remorso, apesar do apoio da esposa.

 

3- A LIBERDADE É AZUL: Julie é uma famosa modelo que decide renunciar à vida após a morte do marido e da filha em um acidente de carro. Porém, depois de uma tentativa frustrada de suicídio, Julie encontra uma obra inacabada do marido, um grande músico, e se interessa por ela.

 

4- REENCONTRANDO A FELICIDADE: Becca e HowieCorbett precisam retornar à sua existência cotidiana, após uma perda chocante e súbita. Oito meses antes, eles eram uma família suburbana feliz com tudo que eles queriam. Agora, eles estão presos em um labirinto de memórias, desejo, culpa, recriminação, sarcasmo e raiva, controlados de forma rígida e que eles não conseguem escapar. Os dois seguem caminhos opostos neste labirinto. Enquanto Becca encontra dor nas lembranças familiares, Howie encontra conforto. Becca hesita em se abrir para sua mãe, mas, secretamente, estende a mão para o adolescente envolvido no acidente que provocou todas as mudanças na sua vida. Entretanto, Howie acredita encontrar consolo com outra mulher. Mas o casal continua tentando reencontrar o seu caminho de volta para uma vida que ainda tem potencial para o riso, a beleza e a felicidade.

 

 

5- TARA ROAD – APRENDENDO A VIVER: Dois países. Duas vidas. Duas mulheres. Em pontos distantes do mundo, duas famílias o vêem desabar, cada uma a sua forma. Nos EstadosUnidos, Marilyn (Andie MacDowell) perde o filho de forma trágica em um acidente com um carro de kart, seu presente de aniversário. Do outro lado do Atlântico, a irlandesa Ria (Olivia Williams) é deixada pelo marido depois de um longo casamento. Após um momento de tristeza e reflexão, as duas propõem uma troca de casas, uma mudança de ares para alterar o curso de suas vidas.

 

6- AS COISAS IMPOSSÍVEIS DO AMOR:Natalie interpreta uma advogada que conseguiu conquistar seu chefe, que era casado quando começaram a namorar, mas precisa lidar com as consequências disso, incluindo seu novo enteado e uma tragédia inesperada. Tem de lidar com o filho dele, com a perda do filho deles e com todos os problemas que isso traz para a relação dos dois.

 

7- HEROIS IMAGINÁRIOS:Uma típica família norte-americana vive uma rotina perfeita, porém sob a aparência de normalidade esconde-se uma família em crise. O filho mais novo experimenta as angústias da adolescência; o pai vive atormentado pelos erros do passado; e a mãe administra seu rancor com o consumo de drogas.

 

8- ENTRE QUATRO PAREDES: É verão no porto de pesca da cidade de Camden, no Maine, onde vive Matt Fowler (Tom Wilkinson), um médico nascido no estado e casado com Ruth Fowler (SissySpacek), uma professora de canto. Frank (Nick Stahl), o único filho do casal que passa as férias de verão em casa, trabalhando para juntar dinheiro para a faculdade. Ele se envolve com Natalie Strout (Marisa Tomei), uma mulher mais velha e com dois filhos, o que deixa seus pais bastante contrariados e apreensivos. As coisas pioram para Frank e Natalie, quando ela recebe a indesejada visita do ex-marido e acontece um terrível incidente. À medida em que o verão vai chegando ao fim, todos se vêem em meio a uma tragédia que jamais poderiam prever.

 

9- UMA PROVA DE AMOR: A pequena Anna foi concebida, através de uma combinação genética, para tentar salvar a vida de sua irmã mais velha, que sofria de câncer. Ao longo dos anos Anna, sem questionar, é submetida a inúmeras consultas, cirurgias e transfusões; mas na adolescência ela se revolta e procura a justiça para ser ouvida.

 

10- A CURA: Erik (Brad Renfro) é um garoto solitário que atravessa todas as barreiras que o preconceito ergueu e se torna amigo do seu vizinho, Dexter (Joseph Mazzello), um garoto de 11 anos que tem AIDS. Erik se torna muito ligado a Linda (Annabella Sciorra), a mãe de Dexter, e na verdade fica mais próximo dela que da sua própria mãe, Gail (Diana Scarwid), que é negligente com ele e quase nunca lhe dá atenção. Quando os dois garotos lêem que um médico de Nova Orleans descobriu a cura da AIDS, os meninos tentam chegar a este médico para conseguir a cura.



Ler mais: http://www.psicologiasdobrasil.com.br/10-filmes-com-um-tema-delicado-a-perda-de-um-filho/#ixzz3wIibaefp

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autoria Sandra P. às 07:45

Terça-feira, 28.07.15

Perda de um filho, a perda sem nome...

O tema das perdas, do luto é bastante susceptivel e por isso mesmo resolvi partilhar esta crónica sobre a perda de um filho. Aqui aborda-se o sofrimento que a mesma acarreta e o facto de não existir um nome para esta perda, pois quando uma mulher perde um marido fica viúva, quando uma criança perde os pais fica orfã e os pais que perdem um filho como ficam?

É terrivel, desejo nunca ter que vivenciar isso na pele... Tenho uma tia que perdeu o filho ainda criança e nunca ultrapassou esse facto, mesmo tendo mais 6 filhos... Enfim, fica por aqui: 

 

 

Respeitem este momento de dor da família", foi o pedido da jornalista Judite de Sousa, lida pelo colega José Alberto Carvalho, na abertura do Jornal das 8, de domingo, 29 de junho de 2014, na TVI. A morte do seu único filho, André Sousa Bessa, aos 29 anos, na sequência de uma queda numa piscina, em casa de amigos, em Azeitão, chocou o País. A página criada no Facebook com o nome da jornalista e uma foto em que está com o filho, no perfil, depressa viu o seu mural cheio de mensagens de apoio e pesar. No mesmo fim de semana, irrompeu outra notícia, a de um despiste em moto 4, no concelho de Penela, que viria a ceifar a vida de duas crianças, com 5 e 6 anos. Como continuar a viver depois "disto", que é da ordem do indizível, do inconcebível?

"Pode ser-se órfão, viúvo, mas não há palavras para designar uma dor tão funda como a da perda de um filho", elucida o psicanalista Carlos Amaral Dias. Por ser contranatura e inverter a ordem natural das gerações, este é o acontecimento de vida mais stressante, logo a seguir ao suicídio de um filho, e tem consequências traumáticas que podem culminar, não raras vezes, em luto patológico, como o estudado por Freud e que o psicanalista Amaral Dias revisita, para ilustrar a dor que não se consegue simbolizar: "A mãe que embala um pedaço de madeira não está a substituir o filho perdido, antes a negar a ideia da morte."

Entre os casos que acompanhou, Amaral Dias lembra o da mulher que ultrapassava essa ideia pelo pensamento mágico, vendo na passagem de uma gaivota, à beira-mar, um sinal enviado pelo filho ausente. E o da mãe que insistia no suicídio do seu menino, morto num acidente de viação: "Era a forma que ela tinha decontinuar ligada a ele, nem que fosse pela culpabilidade."

Há um antes e um depois, como sugere o poema Pedaço de Mim, de Chico Buarque: "A saudade é o revés deum parto/A saudade é arrumar o quarto/Do filho que já morreu." Ou o filme O Quarto do Filho, de Nanni Moretti, em que o triunfo da dor se abate sobre uma família, em que os pais se sentem culpados sem o serem, e suspensos no tempo, em torno do lugar vazio do adolescente perdido.

Um caminho solitário

Embora o luto não seja uma doença, como faz saber o psicanalista António Coimbra de Matos, é sempre muito difícil de resolver, no caso de um filho, agravado pelo facto de se tratar de uma morte violenta e precoce (antes dos 15 ou 16 anos). "Segui alguns casos, não foi uma terapia, antes sessões mensais de apoio, para elaborar o sofrimento e a perda. Cada paciente encontrará uma solução sua." Seja desfazer-se dos pertences seja mantê-los pelo tempo que entender necessário. Ser figura pública é, aqui, irrelevante. Basta lembrar o caso do cantor e ator Angélico Vieira, que perdeu a vida num violento acidente (além de implicar outro morto e feridos, e um processo em tribunal), com a mesma idade que André Sousa Bessa. Desde esse 28 de junho de 2011, o pesadelo mora com os pais de Angélico: aceitar o incompreensível e descobrir estratégias para funcionar é sempre um processo solitário, apesar de todos os apoios que se possa ter.

José Eduardo Rebelo, 57 anos, jamais imaginou que, há duas décadas, viria a perder a mulher e as filhas (com 7 e um ano), num acidente de viação. "Retomar uma condição de equilíbrio, face à vida e a nós próprios, é a finalidade do luto." O professor universitário e biólogo marinho viveu uma década de luto intenso e fez uma reflexão profunda que o levou a fundar a Associação de Apoio à Pessoa em Luto (Apelo), a que preside. "O ser humano está preparado para sobreviver a situações muito complexas e desenvolver mecanismos que continuam a mantê-lo vivo, e só é patológico em 3% a 5% dos casos ", diz José Rebelo. Até lá chegar, há um longo caminho a percorrer: a negação, a busca obsessiva da pessoa perdida, nos objetos e nas conversas. No casal, um tende a exigir ao outro o apoio e as respostas a perguntas candentes, que nenhum é capaz de dar. José Rebelo procurou-as na ciência, mergulhou em livros, escreveu três (destaca Desfilhar: Viver a Perda deum Filho, Casa das Letras, 168 págs., €13,90), fez um mestrado em Psicologia, doutorou-se na sua área. À fase da descrença, sucede a do reconhecimento da perda, com todos os sentimentos associados, "da raiva aodesamparo, passando pela culpa e tristeza; tem-se a sensação de estar a ficar louco e aí bate-se no fundo". A aceitação, ou a conformação, traduzem-se numa pacificação interior, povoada pela dor, que é para a vida, e por "memórias agridoces".

'Lágrimas no paraíso'

A descontinuidade mutilante, que se eterniza e se aprende a gerir na longa marcha dos dias, foi imortalizada em Tears in Heaven, a canção que o britânico Eric Clapton dedicou ao filho Conor, falecido aos 4 anos caiu da janela do apartamento em que vivia com a mãe.

No outono de 2010, o produtor e jornalista Paulo Sousa Costa perdeu o filho de 7 anos, na sequência de uma leucemia. Também pediu que percebessem o silêncio necessário ao seu processo de reconstrução. "Entrei no quarto dele dois dias depois, fui eu que arrumei as roupas, os brinquedos, não deixei que o fizessem por mim. Foi terrível, mas tinha de ser eu a tocar em tudo." Paulo e a mãe da criança decidiram cremar o corpo "Ele não podia ficar fechado num caixão", e a praia onde deitaram as cinzas é hoje o seu local de culto.

Entre mundos

Aos 46 anos, Paulo tem um papel ativo nas redes sociais e nos media. O seu livro Desistir Não É Opção (Luade Papel, 216 págs., €14,95) já totaliza sete edições. Escrito um ano depois da tragédia, conta o que ele nunca disse com a voz: os anos passados com o Paulinho, desde o seu nascimento até ao período negro que se seguiu à partida do filho o primeiro aniversário, o primeiro regresso às aulas, o primeiro verão, o primeiro Natal. Pelos milhares de mensagens que recebeu, Paulo pode dizer que "a obra tem sido inspiradora para pais em luto, mas também para pessoas que estão em desespero por outros motivos".

De forma diferente, as redes sociais parecem-lhe, hoje, um bom veículo para receber e dar apoio. De vez em quando, coloca posts na página elaborada por alguém que não ele (Fãs do Paulinho), e criou uma: As Aventuras do Dragãozinho Azul, alusiva a uma série de sete volumes (publicou o terceiro, cada um dedicado a um pecado), em que o super-herói ajuda as crianças e lhes dá o "soro da bondade", quando é preciso. Ainda a aprender a viver com este "novo" Paulo, confessa ter perdido as rotinas de lazer e o lado colorido da existência. Letícia, a filha, que faz 2 anos este mês, leva-o a esforçar-se para ser o pai que sempre foi. "Talvez já consiga viver um dia de cada vez. Mas há uns em que ainda vivo um segundo de cada vez."

Quanto dura o purgatório? "É preciso um tempo para tudo, mas após um a dois anos, é importante que a pessoa retome uma certa normalidade funcional, para não ficar perdida na dor eterna, no 'e se eu tivesse feito', 'porquê eu?'..." Maria de Jesus Candeias, psicóloga clínica e investigadora, explica como os objetos podem ter uma função durante o luto o quarto, o lugar à mesa, o qual não deve perpetuar-se no tempo, antes dar lugar à passagem para a dimensão simbólica. Ou seja, manter a pessoa viva no pensamento e na memória, sem cair na patologia.

Fátima Negrão é a primeira a reconhecer que ainda não passou por fases que outras mães já atravessaram. Meio ano após a tragédia da praia do Meco, que, na madrugada de 15 de dezembro de 2013, vitimou o seu Pedro, aos 24 anos, as idas regulares ao quarto do filho, que se mantém como estava, são demasiado dolorosas. Só consegue chorar. Não cultiva a indumentária preta, nem a evita. O facto de ter outro filho, que vive no estrangeiro e com quem fala regularmente por Skype, ou o de estar prestes a ser avó, não afastam a dor de algo que não consegue aceitar. "Ainda penso: 'O Pedro vai voltar'." Aos 54 anos, a técnica oficial decontas está a retomar o trabalho, ao seu ritmo. Não se quer isolar. Medicada com ansiolíticos, frequenta reuniões mensais de entreajuda (na Laços Eternos Associação de Apoio a Pais em Luto), na Igreja São João de Deus, em Lisboa.

A 'cura' do tempo

Neste momento, Fátima Negrão não quer pensar no que se segue. O perfil do filho na net continua ativo e a cada dia 15 chovem posts e desabafos. "Também eu já o fiz." Vai manter a página até se cumprir um anodesde que o inimaginável aconteceu. Mais tarde é possível que ceda roupas do filho a amigos próximos. Para já, conforta-a a ideia de que Pedro está a vê-la, a dar-lhe sinais, razão que a leva a continuar a levantar-se da cama e a arranjar-se. Sai de casa e diz-lhe "até logo", dá por ela a pedir-lhe perdão por não ter estado suficientemente a par das suas atividades académicas. Paulo Sousa Costa adverte: "Deem espaço a quem está a passar pelo pior processo que um ser humano pode enfrentar, sem dizer constantemente 'tens de fazer isto, tens de fazer aquilo.'" Maria de Jesus Candeias reforça: "O puxar para a frente, por mais bem-intencionado que seja, reflete a dificuldade dos próximos em lidar com a dor do outro que precisa de tempo."



Ler mais: http://visao.sapo.pt/perder-um-filho-a-dor-sem-nome=f826231#ixzz3h18yw65I

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autoria Sandra P. às 08:53


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