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Terapias


Segunda-feira, 18.01.16

Dívida pública sobe 2 mil milhões

A dívida pública subiu dois mil milhões de euros entre Outubro e Novembro, mês em que alcançou 231,3 mil milhões de euros, revelou hoje o Banco de Portugal. Este agravamento ainda não conta com o impacto do Banif que vai penalizar a dívida pública em quase três mil milhões de euros. 

O banco central justifica este agravamento com o aumento dos empréstimos (no valor de 0,9 mil milhões de euros) e das emissões de títulos, no valor de mil milhões de euros.

No reporte feito ao Eurostat, ainda pelo anterior Governo, Portugal comprometeu-se com um montante de dívida de 223 mil milhões de euros, o que corresponde a 125,2% do PIB.

O Executivo de António Costa ainda não actualizou estes dados, mas no Programa de Governo previu um rácio de dívida igual a 128,2% do PIB (não é conhecido o valor nominal da dívida pública).

Segundo cálculos da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), a dívida pública vai agravar-se em cerca de 3.000 milhões de euros (o equivalente a 1,66 pontos percentuais do PIB) em Dezembro devido à venda do Banif. 

O Banco de Portugal revela ainda que "o incremento da dívida pública foi acompanhado
por um aumento mais acentuado dos activos em depósitos (2,5 mil milhões de euros),
pelo que a dívida pública líquida de depósitos da administração central registou uma redução de 0,5 mil milhões face ao mês anterior, ascendendo a 213,0 mil milhões de euros no final de Novembro de 2015".

 

 

http://economico.sapo.pt/noticias/divida-publica-sobe-2-mil-milhoes-e-ainda-nao-tem-banif_238804.html

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autoria Sandra P. às 09:02

Terça-feira, 12.01.16

2016: SECTORES EM DESTAQUE

É verdade que empresas de Executive Search, como a Amrop, são um barómetro para o mercado. Porquê? Porque assim que as empresas voltam a sentir mais confiança e recebem leituras de recuperação económica, voltam a investir e, naturalmente, o recrutamento é uma das áreas privilegiadas.

Chegados a esta fase do ano é natural que se façam os mais variados balanços. Algo que várias vezes origina a tomada de medidas para a efectivação de uma mudança profissional. Assim, para além de olhar para o que aconteceu será importante tentar antecipar o que vai acontecer. É com esta premissa que hoje escrevo sobre os sectores que são apontados como potencialmente os mais prósperos.

Tendo por base outlooks macroeconómicos e sectoriais pode-se concluir que o próximo ano será mais um passo em frente na retoma iniciada em 2013. Desde então o crescimento do número de empregados na União Europeia, até meados de 2015, era de 2,8% (informação retirada doEuropean Economic Forecast – Winter 2015). Continuando na Europa, os sectores que mais devem crescer são: tecnológico, saúde e indústria farmacêutica, industrial, financeiro. Contudo, essa poderá não ser exactamente a realidade em Portugal, sobretudo em relação às duas últimas áreas.

 

Portugal: visão para 2016

O próximo ano é apontado, quase por unanimidade, como um ano de crescimento em Portugal. Os indicadores económicos dão essa esperança e o próprio governo está a tomar medidas nesse sentido, pois acredita que a melhor fórmula para a retoma é a de estimular o consumo.

Por esta razão, o sector do grande consumo e retalho deverá manter a dinâmica de crescimento e, consequentemente, de recrutamento que tem vindo a demonstrar nestes últimos dois anos. Nesta área vamos continuar a assistir às multinacionais a recrutar jovens talentos em Portugal, para posteriormente exportar muitos dos mesmos. Contudo, algumas empresas, sobretudo portuguesas, já têm capacidade de atrair algum deste talento que optou pela expatriação (como forma de evolução profissional) e que agora traz consigo outro tipo de práticas e experiências. Para além disso temos ainda alguns grandes grupos portugueses a apostarem na internacionalização, o que favorece o crescimento destas empresas, levando-as a recrutar.

Outro sector, que está relacionado com o anterior, e que tem estado em franco desenvolvimento é o do Turismo; composto por novos e velhosplayers que actuam na mesma arena, cada vez mais polarizada. Portugal está claramente na moda e esta área tem provado ser uma óptima alternativa para muitos gestores que viram “desaparecer” as suas posições ou que simplesmente procuravam mudar de vida. Este sector conta por isso com uma dinâmica muito atraente, até por estar focado em temas positivos e de bem-estar, aos quais muitos profissionais gostam de estar ligados.

Por outro lado, e como consequência de várias alterações que tem sofrido, temos o sector da saúde (grupos de saúde) e indústria farmacêutica, onde encontramos empresas e organizações que se têm adaptado ao novo paradigma de negócio, mas que para tal têm necessitado de pessoas com perfis diferentes. Estas mudanças vão continuar, pois na área da saúde assistimos a fortes investimentos estrangeiros (e não só) e na indústria farmacêutica verificamos que as grandes empresas estão activas em fusões, aquisições e reestruturações, com o objectivo de irem buscar conhecimento, patentes e novas moléculas. Este mercado está a bipolarizar-se entre empresas que se focam mais na área hospitalar (desenvolvendo medicamentos para doenças tendencialmente mais graves, crónicas e de nicho) e as empresas com foco em genéricos. Dai os modelos de negócio terem mudado substancialmente nos últimos anos, o que torna as empresas de hoje tão diferentes das do início do século.

 

Sector tecnológico em maior destaque

Mas é o sector tecnológico que mais promete, pois este será certamente o ano decisivo para muitas empresas que até à data estiveram a incubar ou que são start-ups muitos recentes. Este ano teremos em Portugal, pela primeira vez, um dos grandes eventos a nível mundial, o Web Summit. Um acontecimento muito interessante, não apenas pela quantidade e qualidade das pessoas que atrai, mas sobretudo por proporcionar oportunidades aos profissionais que melhor se prepararem para interagir com os gurus e empresas presentes no evento.

Assistimos ainda a um consistente movimento de internacionalização das mais proeminentes empresas deste sector. É estimulante verificar que, independentemente de serem pequenas ou grandes, e dado terem o mesmo objectivo, têm desenvolvido um maior espírito de cooperação, abandonando a típica e castradora atitude portuguesa de cada um por si.

Existe ainda a área de serviços, sinérgica e complementar à tecnológica, e que tem conseguido desenvolver-se de forma promissora, tanto a nível nacional como internacional. Estas empresas, apesar de serem em alguns casos transversais a diferentes sectores, acabam por ter sobretudo uma base tecnológica. Aqui temos vários exemplos de empresas de consultoria, projecto e/ou de implementação que estão a crescer, dado o seu foco em áreas que localmente são um nicho mas que globalmente tornam-se muito atractivas e rentáveis.

Quer as empresas tecnológicas, quer as de serviço, têm conseguido recrutar jovens recém-licenciados, com formações bem distintas, e atrair profissionais de outros sectores. Esta atractividade acontece não só pelos desafios e carreiras que oferecem no imediato, mas também por já se ter percebido que o futuro em (quase) tudo passa pelo melhor e mais frequente uso da tecnologia. Como exemplo posso referir a área FinTech,que reflecte a grande transformação que está a acontecer no sector financeiro e que tem como principal força motriz a tecnologia. Engloba-se aqui, por exemplo, não só a transição para o online, mas também toda a questão dos modos de pagamento, nomeadamente com a entrada daswallets, moedas virtuais e transferências P2P (peer-to-peer).

Termino desejando a todos um óptimo 2016, e que este seja o ano onde possam concretizar os vossos projectos profissionais.

 

http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2016-01-03-2016-sectores-em-destaque

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autoria Sandra P. às 08:21

Domingo, 12.07.15

Entre Passos e Costa...

Fica aqui a crónica do António Costa sobre as alternativas para formar governo que possuimos em Portugal: Passos Coelho vs Costa.

Quem quiser consular fica aqui: http://economico.sapo.pt/noticias/entre-passos-e-costa-quem-escolhia-para_223319.html

 

Se Costa ganha a Passos, perde várias vezes para a terceira via, quando os portugueses não acreditam nem em um, nem em outro.

 

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autoria Sandra P. às 07:57

Sábado, 14.03.15

os-ingredientes-para-a-proxima-crise-estao-todos-ai

Este tipo de notícias deixa-me super alarmada para não dizer mesmo triste e preocupada. Afinal que rumo teremos?? Mais crise?? AINDA??

Mas este GRANDE SENHOR diz tão boas VeRDADES que muitos devem detestar... Vergonhoso!!

 

http://expresso.sapo.pt/os-ingredientes-para-a-proxima-crise-estao-todos-ai=f914613

É o aviso de Marc Roche, autor de "Banksters", um "desiludido do capitalismo", numa conversa com o Expresso.
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Deliludido. "É moralmente inaceitável que os banqueiros não respeitem a ética que é exigida aos políticos e aos industriais, uma ética mínima"
 
Deliludido. "É moralmente inaceitável que os banqueiros não respeitem a ética que é exigida aos políticos e aos industriais, uma ética mínima"

O jornalista e escritor financeiro belga radicado em Londres, onde segue os temas da City há mais de 20 anos, veio a Lisboa apresentar a tradução do seu último livro que tem o título sugestivo de "Banksters - Uma viagem ao submundo dos banqueiros", publicado pela A Esfera dos Livros. Disse ao Expresso que o tema do livro servirá de argumento para mais um filme com a realização de Jérôme Fritel que deverá estrear no canal francês Arte em setembro de 2016.

A economia mundial continua sentada em cima de uma série de bombas ao retardador e Marc Roche não quer voltar a ser surpreendido como em 2008 com o estoiro do Lehman Brothers nos Estados Unidos e com a grande crise financeira que se seguiu. Sobretudo ele não quer que o leitor seja surpreendido.

Os ingredientes para uma nova grande crise financeira estão todos aí. Os banqueiros voltaram ao seu modus operandi. Os banksters - a contração inglesa para banqueiros e gangsters - escaparam à justiça na esmagadora maioria dos casos e reciclaram-se durante estes quase oito longos anos que já leva a crise. Só os traders, esses "soldadinhos" dos teclados, ou alguns bodes expiatórios foram condenados. Os reguladores, apesar de mais regulação mesmo depois da catástrofe, sempre tratam com pinças a alta finança e deixam as situações arrastar-se. Se Marc Roche tivesse na sua carteira de amigos da alta finança a família Espírito Santo, o caso GES e BES poderia, quem sabe, ser mais um capítulo do seu livro "Banksters". Um exemplo, retardado, num país periférico do euro.  

A opacidade do oligopólio das grandes auditoras continua e os paraísos fiscais sobrevivem. O problema é que aos ingredientes, velhos, que engendraram a crise financeira de 2008, novas bombas de retardador se juntaram, diz o jornalista e escritor belga: o disparo do sistema financeiro sombra, sobretudo o que está embebido na segunda maior economia do mundo, a China; a cada vez maior complexidade dos veículos financeiros; e a emergência da negociação eletrónica de alta frequência em todos os mercados financeiros, conhecida pela expressão inglesa high-frequency trading (acrónimo HFT), que vive de algoritmos cada vez mais sofisticados, num ambiente que parece de ficção científica.

Marc Roche é um belga, de 64 anos, correspondente em Londres em assuntos financeiros para os jornais "Le Point" e "Le Soir", e até há pouco tempo para o "Le Monde". Há mais de vinte anos que acompanha a City. Anteriormente esteve radicado em Nova Iorque onde acompanhou Wall Street. O choque que lhe provocou a crise de 2008 tornou-o, confessa-se, "um liberal que duvida", um "prosélito do capitalismo em crise de fé". Com esse mal-estar em pano de fundo já escreveu três livros de choque em francês - "O Banco, como o Goldman Sachs dirige o mundo" (2010, traduzido pela A Esfera dos Livros em 2012), uma "potência do capitalismo" com quem ele confessa manter uma "relação de amor-ódio", "Le Capitalisme Hors la Loi" (O Capitalismo Fora da Lei, 2011) e, agora, "Banksters" (2014). 

 

Os recentes acontecimentos com o Grupo e o Banco Espírito Santo dariam mais um capítulo para o seu livro?
Nunca tinha ouvido falar do Banco Espírito Santo. Em Londres, durante um cocktail na Câmara de Comércio Franco-Britânica encontrei um dos dirigentes da filial desse banco na City. Um banqueiro bem vestido, falando um francês impecável, ainda que sendo português, e ele explicou-me um pouco o que fazia o banco. Estranhei o nome e perguntei se era algum banco católico. Que não, não era, disse-me o meu interlocutor. Que era o nome de família. Estranhei, depois, que um banco de família estivesse cotado em bolsa. Explicou-me que era melhor para o financiamento. Marcámos um reencontro para setembro. Isto foi alguns meses antes da queda do banco e a esta distância não fico admirado com este escândalo. Uma sociedade cotada em bolsa mas uma família que não prestava contas a ninguém. Uma ligação estreita entre esta família e os meios políticos, de direita hoje, antes, sem dúvida, com a esquerda. Um sentimento de que estavam acima da lei, um regulador fraco, um banqueiro central que visivelmente não conhecia nada da regulamentação bancária. Todos os ingredientes estavam lá para um desastre, e foi isso que aconteceu. Refletindo sobre o que aconteceu aos Espírito Santo, eu tive o mesmo sentimento que quando estive em Nova Iorque no Lehman Brothers, então um banco tido como infalível, e depois viu-se o resultado.

O termo banksters é duro. Foi primeiro utilizado pelo juiz Ferdinand Pecora em 1933 quando dirigia no Senado dos EUA a Comissão que investigou os comportamentos de Wall Street e dos banqueiros que levaram ao crash de 1929 e poucos anos mais tarde por León Degrelle em 1937 na campanha de propaganda na Bélgica contra a finança. Porque o tirou, agora, da gaveta?
É verdade que o termo foi usado pela Comissão Pecora nos anos 30 e pelo fascista belga Degrelle. Dito isto, na imprensa anglo-saxónica, a expressão regressou com a revista "The Economist" [uma capa em julho de 2012]  e com o "Financial Times" depois da crise de 2008, para apontar o dedo ao disfuncionamento da finança. A palavra é uma contração de banqueiros com gangsters. Mas isso não quer dizer que todos os banqueiros o sejam. O que eu quero dizer usando esse título é que, frequentemente, a profissão financeira ultrapassa a linha amarela da moral e por vezes da própria legalidade.

O que é o que fez tornar-se um desiludido do capitalismo financeiro? Por que razão mudou a sua conceção sobre os "amigos capitalistas" da alta finança?
Sejamos claros não se pode ser jornalista financeira, como eu fui durante 27 anos tanto em Wall Street como na City londrina, sem se ser um liberal. É impossível. Não se pode ser de extrema-esquerda ou altermundialista e exercer essa profissão de cronista financeiro. Eu era um liberal que defendia o capitalismo financeiro, pelo menos o que eu pensava que era. Eu sou um jornalista financeiro generalista que estudou Economia e que tinha tendência a meter num pedestal os atores económicos. Não tinha uma noção clara dos instrumentos financeiros tóxicos. Não tinha uma noção em particular da engenharia financeira. Mesmo para o "Le Monde" eu fazia, por vezes, perfis de financeiros que eram laudatórios. Era o espírito da época. Com Lehman Brothers essa época desabou O meu mundo depois também desabou.

Ao fim destes anos de crise, o que é sintomático, como refere no livro, é que o peixe graúdo da alta finança se reciclou, só os traders foram para a prisão. Qual é a razão para esta impunidade penal sistemática?
Hoje em dia há uma regulação muito mais estrita, convém começar por sublinhar. Mas, as multas colossais aplicadas ao Bank of America ou ao BNP Paribas, e em breve, creio, ao HSBC, só se aplicam aos bancos em si. Os banqueiros escapam. Só os bodes expiatórios são condenados, como, por exemplo, com Fabrice Touré, o antigo trader francês da Goldman Sachs, o soldadinho que pagou pelos outros. Os banqueiros escapam a toda a espécie de sanção penal. Porque é difícil de provar. A defesa deles diz que cometeram erros, que houve má gestão, e que isso não é crime. Os júris que os julgam não sabem grande coisa de finança e os juízes também não. Os banqueiros têm os melhores advogados que encontram todas as astúcias que lhes permitem de fugir à justiça. E, para além disso, escapam, também, a sanções financeiras. Na realidade, saem por uma porta e entram pela outra, ou melhor, usam a porta giratória.

E por que razão os reguladores e os supervisores são sempre tratados com pinças quando são corresponsáveis pelo que se passou?
E escapam sem qualquer sancionamento. Mas vejamos, os políticos e os funcionários em regra escapam. É raro haver prisões por corrupção, como sabe. Em Portugal há o caso de um ex-primeiro-ministro na prisão que está a ser investigado. Mas é raro. Quanto aos reguladores, o problema central é que são mal pagos e são subfinanciados, pois os Estados estão em dificuldades, e por isso não podem recrutar os melhores. Se têm altos conhecimentos financeiros não vão para a carreira pública. Os melhores vão para a Goldman Sachs e não para a SEC (Comissão de Valores Mobiliários), nos Estados Unidos, ou para as congéneres britânicas ou europeias. Resultado, a regulação não é a melhor.

De todas as histórias que conta no livro, que tipo de gente mais o preocupou?
Os auditores. Todos os escândalos passaram pelos auditores que não realizaram o trabalho que deveriam. Nenhum foi punido, à exceção da Arthur Andersen. A auditoria é um oligopólio de sociedades privadas em que a auditoria é um produto-chamariz para a consultoria, o verdadeiro negócio destas empresas. A posteriori, o que se passou com a auditoria do caso Espírito Santo chocou-me profundamente, também, como escrevi na Introdução para a edição portuguesa do livro.

No seu livro não usa o termo "financeirização" criado pelo político republicano norte-americano Kevin Philips nos anos 90 para ilustrar a captura da economia e da política pela alta finança. Acha mesmo, como advoga, que o sector financeiro pode regressar ao seu ofício inicial?
Esse é um tema sensível. Nós temos necessidade dos bancos. A economia não pode funcionar sem eles. Mas é preciso que os bancos financiem a indústria, os empreendedores, os proprietários, os que acedem pela primeira vez  à propriedade,  ora, é para isso que temos os bancos de retalho. Estes bancos estão protegidos pelos contribuintes. Os depósitos estão protegidos. Tudo isso é normal. Mas não temos necessidade de proteger esses supermercados da finança, esses conglomerados dos demasiado grandes para poderem falir (too big to fail, TBTF no acrónimo em inglês). Por que razão o Estado tem de proteger o trading, a especulação, ou o private banking que tem o ofício de ajudar os ricos a não pagarem os impostos que devem?

O que é preciso, então, fazer?
É preciso cindir os bancos. De um lado, os bancos de retalho, que se dedicam ao financiamento da economia no sentido amplo. Do outro lado, tudo o resto que se dedique ao que quiser com o seu dinheiro e que tem de ser extremamente controlado em matéria de governança e de regulação. Gosto de dar o exemplo das economias escandinavas, onde os bancos financiam a indústria. O caso do banco sueco Svenska Handelsbanken [fundado em 1871] que tem a melhor performance na Europa. Não atribui bónus aos seus dirigentes, só fazem banca de retalho e investem a longo prazo. Eis a solução.

No final do seu livro propõe uma "nova moral financeira" para evitar um novo crash. Mas será possível ao capitalismo financeiro deixar de ser um profissional da "instabilidade financeira" como chamou a atenção Hyman Minsky desde os anos 70?
É moralmente inaceitável que os banqueiros não respeitem a ética que é exigida aos políticos e aos industriais, uma ética mínima. É inaceitável que os banqueiros ajudem gente a defraudar o fisco. É imoral. A única maneira de relançar a economia não é a austeridade, é uma política fiscal equitativa para acabar com o facto de os ricos pagarem menos do que os outros contribuintes em termos relativos - como dizia Warren Buffett comparando-se com a sua secretária. No fundo é uma questão de democracia.

Porquê?
Quem está a pagar esta situação é a classe média. E este facto está a empurra-la para os braços dos extremismos. O centro está a afundar-se. A história deveria servir de exemplo com o que se passou na Alemanha nos anos 30. É toda a democracia que fica em perigo. Volto ao exemplo da Escandinávia - é preciso equilíbrio entre a finança e a indústria e sobretudo ter um sistema fiscal justo. Acabar com a situação dos ricos pagarem poucos impostos, e a classe média excessivamente. 

A próxima crise pode irromper em virtude do cocktail perigoso de que fala no livro quando fala de bombas ao retardador?
Nunca sabemos de onde a crise aparece nem quando. Há essa regra média de uma crise de sete e sete anos, o que somando sete anos a 2008 dá um inquietante 2015. Mas é uma média, contudo. O que é certo é que há uma série de bombas ao retardador que podem gerar, em conjunto, um risco sistémico. A primeira, a negociação eletrónica de alta frequência (high frequency trading, na expressão inglesa), que não está regulamentada, e, pior do que isso, os seus computadores que funcionam ao nanosegundo estão nas bolsas. É um claro conflito de interesses e prejudica todos os outros. Depois, o sistema bancário sombra (shadow banking, na expressão inglesa consagrada) que está em pleno desenvolvimento, e sobretudo na China. Em terceiro lugar, os paraísos fiscais que continuam a existir, porquê? Continuam a existir por toda a União Europeia, por exemplo. Cada país protege os seus; eles fazem o que não se quer fazer oficialmente. Finalmente, a grande complexidade dos instrumentos financeiros.

O que é que pode acontecer?
Isso tudo junto, mais a enorme quantidade de dinheiro injetada pelos bancos centrais, e mais o modo como os banqueiros podem contornar a legislação, é uma mistura de verdadeiras bombas ao retardador. Tem um enorme impacto sistémico e pode levar a um novo 2008. Eu não sou Nostradamus.  Não sei quando e como virá a próxima crise. Mas todos os ingredientes estão aí. Finalmente, acrescentaria que é preciso alinhar os bónus dos financeiros pelos dos industriais, no mesmo nível de competência.

Mario Draghi foi um dos homens do Goldman Sachs, que foi tema de um seu livro anterior. É considerado, agora, como o salvador do euro. Quem é Draghi?
Eu nunca disse que Draghi é um bankster porque foi banqueiro no Goldman. Ou Mark Carney, atualmente governador do Banco de Inglaterra, que, também, passou pelo Goldman. Ou Emmanuel Macron, atual ministro da Economia do governo francês, que foi banqueiro de investimento na Rothschild. O que eu assinalei sobre Draghi e os outros foi a recusa em explicarem o que fizeram para os bancos em que trabalharam, bancos que frequentemente fizeram coisas condenáveis. É a questão da ética. A crise financeira teve a ver com isso, com a falta de ética profissional, de moral, que, convém reconhecer, vem de braço dado com a cupidez.

A "terceira via" inventada por Anthony Giddens em 1995, e colocada em prática por Tony Blair, foi uma espécie de mistura da social-democracia com o financismo contemporâneo?
Em teoria, a "terceira via" devia juntar a social-democracia com a desregulamentação, conseguir o que muitos governos socialistas não conseguiram, unindo progressão social e boom económico.  O resultado foi um desastre total em Inglaterra. Os ricos ficaram mais ricos, a classe média empobreceu e os pobres continuaram pobres. Depois, Tony Blair colocou-se ao serviço do sector financeiro. Conselheiro do J.P.Morgan, de companhias de seguros e serve de intermediário com regimes autoritários. Ganha imenso dinheiro na maior opacidade. Ele usa a sua agenda de contactos, acumulada durante 10 anos de governo, para vender os seus serviços. É vergonhoso.

Uma das coisas que considera mais indignas é o "túnel" entre a política e a finança internacional. Entre os "abridores de portas", que chama, no seu livro, de apóstolos do "capitalismo relacional", qual é o caso que mais o chocou?
Tony Blair (risos). Mas ele não está só. O ex-chanceler alemão Gerhard Schröder, ligado à Gazprom e recrutado também pela Rothschild. Dominique Strauss-Kahn, ministro em França e diretor-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), agora membro da direção do Banco de Desenvolvimento Regional Russo. O britânico Peter Mandelson, ministro de Tony Blair e Goldon Brown e ex-comissário europeu, a trabalhar com Lazard. O ex-primeiro-ministro belga Jean-Luc Dehaene que trabalha para a Dexia. O falecido António Borges, da Goldman Sachs, diretor do Departamento Europeu do FMI e responsável pela política de privatização em Portugal [junto da troika]. Romano Prodi, em Itália - Goldnan Sachs, primeiro-ministro, Goldman Sachs, presidente da Comissão Europeia. E tantos outros.

Uma coisa que o irrita é a constante campanha anti-euro no Reino Unido. Dedica mesmo um capítulo do livro ao seu diário de eleição, o "Financial Times", pelo facto dos detratores da moeda única monopolizarem as páginas. Mas o euro tem, de facto, futuro?
O euro é um sucesso, até nova ordem. Há uma crise do euro que foi provocada pelo endividamento excessivo de alguns Estados encorajados pelos bancos. Mas o euro, como conceito, continua a ter atualidade. Com uma condição: que avance a integração política europeia. Não podemos ter um euro económico sem integração política. É o que falta ao grande projeto do euro. Os responsáveis do "Financial Times" (FT) dizem-me que os colunistas são livres de escrever o que entendem. Mas estes cronistas passam a vida a especular contra o euro, a denegrir o euro. Nas grandes salas de mercados o que é que as pessoas leem? O FT, sobretudo online. Os responsáveis do FT dizem que são a favor da Europa, que o Reino Unido deve permanecer na União Europeia. Mas ao mesmo tempo fazem tudo para a desestabilizar. É hipocrisia, diria mesmo perfídia (risos). 



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autoria Sandra P. às 11:54


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