Quinta-feira, 30.07.15
Se o amor da minha vida não chegar, vou publicar todos os meus casos de amor. Em de-ta-lhes. E vão ser vários. Vou chorar pitangas com as amigas, fazer brigadeiro, depois vou pra academia e pintar o cabelo de loiro. Vou odiar tanto a cagada que o cabeleireiro fez que nem vai dar tempo de lembrar quem era esse otário que me fez chorar. (…)
Não vou precisar decidir se vou casar ou comprar uma bicicleta. Eu vou comprar uma bicicleta e pronto. Minha casa sempre vai ter gente, mas alguns dias eu vou preferir ficar sozinha lendo um livro e tomando um bom vinho. Em outras noites vou tomar leite com nescau vestida com meu casaco de lã.
(…) Vou continuar tendo meus inúmeros casinhos, mas sempre vai ter um que tira minha noite de sono, seja rolando na cama ou porque estou desabafando sobre ele com uma amiga ou com o Word. Depois vai passar e eu vou me apaixonar de novo e de novo. E eu não vou ter problema em conhecer outro cara incrível em uma viagem que eu fizer sozinha, porque meu coração vai ser só meu.
(…) Todos os dias vão ser diferentes porque nunca fui muito de rotina. Sexta eu vou chamar minhas amigas pra fazer uma comida diferente em casa enquanto a gente espera a cerveja gelar. Domingo eu vou fazer um almoço para aqueles que eu mais gosto, depois vou ao cinema assistir um filme cult que eu não entenda nada. Em outro fim de semana eu vou sair pra dançar, tomar uns drinks diferentes e voltar pra casa sozinha, mas com o coração cheio, porque sair só pra dançar é uma das coisas que me deixam mais completa.
Por mais que nenhum cara acredite, uma das coisas que as mulheres mais gostam de fazer é sair SÓ pra dançar. A gente gosta de se sentir bonita, viva, feliz e desejada, mas isso não quer dizer que queremos sair de lá com um cara qualquer. Um cara qualquer não substitui a felicidade de dormir sozinha até meio dia porque passou a noite dançando suas musicas preferidas junto com suas amigas preferidas.
Isso também não quer dizer que a gente não ligue para sexo. Até porque eu ligo bastante. Mas entre sexo meia boca e uma boa noitada suando a camiseta, eu fico com a segunda opção. É muito bom se sentir desejada, mas ao mesmo tempo não sentir desejo por ninguém.
Em outros fins de semana eu vou pra praia cedinho, vou fazer suco verde e fingir pra mim mesma que agora eu virei saudável. E já que um grupo de amigos legais é tudo que uma pessoa solteira precisa, é com eles que vou dividir meus dias, por mais que todos comecem a se casar.
Vou estudar fora. Em qualquer lugar que pintar uma oportunidade de fazer arte. Depois vou passar um tempo morando em San Francisco, porque dizem que lá é a minha cara e eu quero me entupir de conhecimento, cerveja e de pessoas que aquecem o coração.
Enfim, vou descobrir que de nada vale encontrar o amor da vida se eu não viver o melhor da vida comigo mesma.
Então, se ele não chegar, eu vou viver minha vida como eu sempre vivi, sem esperar um feliz para sempre e investindo no feliz agora.
Vai ter espaço pra muito amor, por mais que eu me sinta sozinha alguns dias, por mais que me olhem com cara de pena, por mais que achem que eu me envolva com várias pessoas para preencher esse vazio.
Mas não tem vazio nenhum, é só muito amor pra dar e pouca vida pra ser desperdiçada.
E se por um acaso isso de amor da vida existir, eu vou saber quando ele chegar porque eu não vou precisar abrir mão de nada disso.
Grande blog De Repente Dá Certo. Roubei este texto de lá pois super identifiquei-me...
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autoria Sandra P. às 07:08
Terça-feira, 28.07.15
O tema das perdas, do luto é bastante susceptivel e por isso mesmo resolvi partilhar esta crónica sobre a perda de um filho. Aqui aborda-se o sofrimento que a mesma acarreta e o facto de não existir um nome para esta perda, pois quando uma mulher perde um marido fica viúva, quando uma criança perde os pais fica orfã e os pais que perdem um filho como ficam?
É terrivel, desejo nunca ter que vivenciar isso na pele... Tenho uma tia que perdeu o filho ainda criança e nunca ultrapassou esse facto, mesmo tendo mais 6 filhos... Enfim, fica por aqui:
Respeitem este momento de dor da família", foi o pedido da jornalista Judite de Sousa, lida pelo colega José Alberto Carvalho, na abertura do Jornal das 8, de domingo, 29 de junho de 2014, na TVI. A morte do seu único filho, André Sousa Bessa, aos 29 anos, na sequência de uma queda numa piscina, em casa de amigos, em Azeitão, chocou o País. A página criada no Facebook com o nome da jornalista e uma foto em que está com o filho, no perfil, depressa viu o seu mural cheio de mensagens de apoio e pesar. No mesmo fim de semana, irrompeu outra notícia, a de um despiste em moto 4, no concelho de Penela, que viria a ceifar a vida de duas crianças, com 5 e 6 anos. Como continuar a viver depois "disto", que é da ordem do indizível, do inconcebível?
"Pode ser-se órfão, viúvo, mas não há palavras para designar uma dor tão funda como a da perda de um filho", elucida o psicanalista Carlos Amaral Dias. Por ser contranatura e inverter a ordem natural das gerações, este é o acontecimento de vida mais stressante, logo a seguir ao suicídio de um filho, e tem consequências traumáticas que podem culminar, não raras vezes, em luto patológico, como o estudado por Freud e que o psicanalista Amaral Dias revisita, para ilustrar a dor que não se consegue simbolizar: "A mãe que embala um pedaço de madeira não está a substituir o filho perdido, antes a negar a ideia da morte."
Entre os casos que acompanhou, Amaral Dias lembra o da mulher que ultrapassava essa ideia pelo pensamento mágico, vendo na passagem de uma gaivota, à beira-mar, um sinal enviado pelo filho ausente. E o da mãe que insistia no suicídio do seu menino, morto num acidente de viação: "Era a forma que ela tinha decontinuar ligada a ele, nem que fosse pela culpabilidade."
Há um antes e um depois, como sugere o poema Pedaço de Mim, de Chico Buarque: "A saudade é o revés deum parto/A saudade é arrumar o quarto/Do filho que já morreu." Ou o filme O Quarto do Filho, de Nanni Moretti, em que o triunfo da dor se abate sobre uma família, em que os pais se sentem culpados sem o serem, e suspensos no tempo, em torno do lugar vazio do adolescente perdido.
Um caminho solitário
Embora o luto não seja uma doença, como faz saber o psicanalista António Coimbra de Matos, é sempre muito difícil de resolver, no caso de um filho, agravado pelo facto de se tratar de uma morte violenta e precoce (antes dos 15 ou 16 anos). "Segui alguns casos, não foi uma terapia, antes sessões mensais de apoio, para elaborar o sofrimento e a perda. Cada paciente encontrará uma solução sua." Seja desfazer-se dos pertences seja mantê-los pelo tempo que entender necessário. Ser figura pública é, aqui, irrelevante. Basta lembrar o caso do cantor e ator Angélico Vieira, que perdeu a vida num violento acidente (além de implicar outro morto e feridos, e um processo em tribunal), com a mesma idade que André Sousa Bessa. Desde esse 28 de junho de 2011, o pesadelo mora com os pais de Angélico: aceitar o incompreensível e descobrir estratégias para funcionar é sempre um processo solitário, apesar de todos os apoios que se possa ter.
José Eduardo Rebelo, 57 anos, jamais imaginou que, há duas décadas, viria a perder a mulher e as filhas (com 7 e um ano), num acidente de viação. "Retomar uma condição de equilíbrio, face à vida e a nós próprios, é a finalidade do luto." O professor universitário e biólogo marinho viveu uma década de luto intenso e fez uma reflexão profunda que o levou a fundar a Associação de Apoio à Pessoa em Luto (Apelo), a que preside. "O ser humano está preparado para sobreviver a situações muito complexas e desenvolver mecanismos que continuam a mantê-lo vivo, e só é patológico em 3% a 5% dos casos ", diz José Rebelo. Até lá chegar, há um longo caminho a percorrer: a negação, a busca obsessiva da pessoa perdida, nos objetos e nas conversas. No casal, um tende a exigir ao outro o apoio e as respostas a perguntas candentes, que nenhum é capaz de dar. José Rebelo procurou-as na ciência, mergulhou em livros, escreveu três (destaca Desfilhar: Viver a Perda deum Filho, Casa das Letras, 168 págs., €13,90), fez um mestrado em Psicologia, doutorou-se na sua área. À fase da descrença, sucede a do reconhecimento da perda, com todos os sentimentos associados, "da raiva aodesamparo, passando pela culpa e tristeza; tem-se a sensação de estar a ficar louco e aí bate-se no fundo". A aceitação, ou a conformação, traduzem-se numa pacificação interior, povoada pela dor, que é para a vida, e por "memórias agridoces".
'Lágrimas no paraíso'
A descontinuidade mutilante, que se eterniza e se aprende a gerir na longa marcha dos dias, foi imortalizada em Tears in Heaven, a canção que o britânico Eric Clapton dedicou ao filho Conor, falecido aos 4 anos caiu da janela do apartamento em que vivia com a mãe.
No outono de 2010, o produtor e jornalista Paulo Sousa Costa perdeu o filho de 7 anos, na sequência de uma leucemia. Também pediu que percebessem o silêncio necessário ao seu processo de reconstrução. "Entrei no quarto dele dois dias depois, fui eu que arrumei as roupas, os brinquedos, não deixei que o fizessem por mim. Foi terrível, mas tinha de ser eu a tocar em tudo." Paulo e a mãe da criança decidiram cremar o corpo "Ele não podia ficar fechado num caixão", e a praia onde deitaram as cinzas é hoje o seu local de culto.
Entre mundos
Aos 46 anos, Paulo tem um papel ativo nas redes sociais e nos media. O seu livro Desistir Não É Opção (Luade Papel, 216 págs., €14,95) já totaliza sete edições. Escrito um ano depois da tragédia, conta o que ele nunca disse com a voz: os anos passados com o Paulinho, desde o seu nascimento até ao período negro que se seguiu à partida do filho o primeiro aniversário, o primeiro regresso às aulas, o primeiro verão, o primeiro Natal. Pelos milhares de mensagens que recebeu, Paulo pode dizer que "a obra tem sido inspiradora para pais em luto, mas também para pessoas que estão em desespero por outros motivos".
De forma diferente, as redes sociais parecem-lhe, hoje, um bom veículo para receber e dar apoio. De vez em quando, coloca posts na página elaborada por alguém que não ele (Fãs do Paulinho), e criou uma: As Aventuras do Dragãozinho Azul, alusiva a uma série de sete volumes (publicou o terceiro, cada um dedicado a um pecado), em que o super-herói ajuda as crianças e lhes dá o "soro da bondade", quando é preciso. Ainda a aprender a viver com este "novo" Paulo, confessa ter perdido as rotinas de lazer e o lado colorido da existência. Letícia, a filha, que faz 2 anos este mês, leva-o a esforçar-se para ser o pai que sempre foi. "Talvez já consiga viver um dia de cada vez. Mas há uns em que ainda vivo um segundo de cada vez."
Quanto dura o purgatório? "É preciso um tempo para tudo, mas após um a dois anos, é importante que a pessoa retome uma certa normalidade funcional, para não ficar perdida na dor eterna, no 'e se eu tivesse feito', 'porquê eu?'..." Maria de Jesus Candeias, psicóloga clínica e investigadora, explica como os objetos podem ter uma função durante o luto o quarto, o lugar à mesa, o qual não deve perpetuar-se no tempo, antes dar lugar à passagem para a dimensão simbólica. Ou seja, manter a pessoa viva no pensamento e na memória, sem cair na patologia.
Fátima Negrão é a primeira a reconhecer que ainda não passou por fases que outras mães já atravessaram. Meio ano após a tragédia da praia do Meco, que, na madrugada de 15 de dezembro de 2013, vitimou o seu Pedro, aos 24 anos, as idas regulares ao quarto do filho, que se mantém como estava, são demasiado dolorosas. Só consegue chorar. Não cultiva a indumentária preta, nem a evita. O facto de ter outro filho, que vive no estrangeiro e com quem fala regularmente por Skype, ou o de estar prestes a ser avó, não afastam a dor de algo que não consegue aceitar. "Ainda penso: 'O Pedro vai voltar'." Aos 54 anos, a técnica oficial decontas está a retomar o trabalho, ao seu ritmo. Não se quer isolar. Medicada com ansiolíticos, frequenta reuniões mensais de entreajuda (na Laços Eternos Associação de Apoio a Pais em Luto), na Igreja São João de Deus, em Lisboa.
A 'cura' do tempo
Neste momento, Fátima Negrão não quer pensar no que se segue. O perfil do filho na net continua ativo e a cada dia 15 chovem posts e desabafos. "Também eu já o fiz." Vai manter a página até se cumprir um anodesde que o inimaginável aconteceu. Mais tarde é possível que ceda roupas do filho a amigos próximos. Para já, conforta-a a ideia de que Pedro está a vê-la, a dar-lhe sinais, razão que a leva a continuar a levantar-se da cama e a arranjar-se. Sai de casa e diz-lhe "até logo", dá por ela a pedir-lhe perdão por não ter estado suficientemente a par das suas atividades académicas. Paulo Sousa Costa adverte: "Deem espaço a quem está a passar pelo pior processo que um ser humano pode enfrentar, sem dizer constantemente 'tens de fazer isto, tens de fazer aquilo.'" Maria de Jesus Candeias reforça: "O puxar para a frente, por mais bem-intencionado que seja, reflete a dificuldade dos próximos em lidar com a dor do outro que precisa de tempo."
Ler mais: http://visao.sapo.pt/perder-um-filho-a-dor-sem-nome=f826231#ixzz3h18yw65I
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autoria Sandra P. às 08:53
Segunda-feira, 27.07.15
A depressão é uma doença que afecta milhares de pessoas em todo o mundo. Um problema difícil de gerir, tanto para o doente como também para as pessoas à sua volta. Muitas vezes, familiares e amigos não sabem o que devem, ou não, dizer para facilitar a vida destas pessoas.
A psiquiatra Jean Kim dá-lhe algumas dicas daquilo que não deve mesmo dizer, se quiser ajudar alguém com depressão:
1. “Por que não fazes qualquer coisa para ultrapassar isso?”
Dizer a uma pessoa deprimida para fazer alguma coisa para ultrapassar a doença pode ser algo instintivo, mas não é uma boa ideia. Isto pode fazer com que o indivíduo se sinta ainda mais desesperado. A verdade é que aquilo que estas pessoas mais querem é não se sentirem deprimidas e ultrapassarem esta fase, mas não é fácil.
Opte antes por palavras de encorajamento. Lembre-se que sua a auto-estima e energia estão muito em baixo e que, no caso de uma depressão grave, estas pessoas não conseguem sequer controlar os seus comportamentos.
2. “Por que não consegues ser feliz?”
Todas as pessoas querem ser felizes, e aquelas que sofrem de depressão não são excepção. A única questão é que estas pessoas só conseguem concentrar-se no lado negativo das coisas e na sua tristeza. Isto não é algo que se consiga reparar rapidamente. Exige tempo e terapia. Consultar um psicólogo ou psiquiatra pode ajudar os indivíduos com depressão a olhar para o mundo e a auto-analisarem-se de uma maneira mais equilibrada. Estar constantemente a pedir a estes indivíduos para serem felizes, ou para olharem para o lado bom da vida, só vai fazer com se sintam mais tristes e perdidas.
3. “Mantém-te longe de terapias e medicamentos”
O estigma associado aos psicólogos e aos psiquiatras faz com que muitas pessoas com depressão não peçam ajuda. Muitos receiam ou têm vergonha de falar dos seus problemas pessoais com estranhos. No caso dos medicamentos, há quem tenha medo dos efeitos secundários, ou de perderem o controlo de si. Se quer o melhor para um amigo ou familiar com depressão, convença-o a falar com um especialista. Já foi comprovado que um acompanhamento especializado e, por vezes, alguma medicação ajudam as pessoas a ultrapassar esta doença.
4. “Também não estás assim tão mal!”
Ter uma depressão pode ser tão mau como estar num campo de refugiados a morrer à fome. Mas isso não quer dizer que a pessoa não esteja em sofrimento, independentemente de ser uma depressão grave ou ligeira.
Tente compreender o sofrimento do seu familiar ou amigo e não o compare com outras tragédias no mundo. Demonstre empatia e compaixão pelo seu sofrimento.
Ler em :http://sol.pt/noticia/404192
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autoria Sandra P. às 08:52
Domingo, 26.07.15
O calão e o falar portuense, a sua tradução para o inglês e o seu significado e o seu equivalente nesta língua preenchem as mais de 200 páginas do Dicionário PORTOguês-Inglês, que esta sexta-feira vai ser apresentado, no Porto.
O dicionário "tem cerca de mil entradas na variante linguística dos falantes do Porto", informam os seus autores, Ana Cruz, Cristina Vieira Caldas e João Carlos Brito.
"Depois colocámos a tradução literal em inglês, o que dá coisas engraçadíssimas, o seu significado e, por fim, as palavras e expressões equivalentes no calão inglês não só de Inglaterra, mas também dos Estados Unidos, da Austrália e da Escócia", acrescentam.
Trata-se só "um contributo", explicam também, referindo terem "plena consciência" de que "existem muitas mais" expressões que poderiam figurar neste dicionário.
João Carlos Brito disse à agência Lusa haver na obra "uma intenção de humor" que a tradução literal proporciona, "mas existe também um trabalho de pesquisa e de investigação original, já mais sério, porquanto se procurou apresentar o seu significado e as expressões correspondentes ou aproximadas no calão, idiomatismo ou no inglês informal".
Salientou que "a tarefa, até por ser pioneira, revestiu-se de grandes dificuldades". O trabalho de campo durou um ano.
Estão lá expressões populares como "Andar sempre ó tio, ó tio" (em inglês literal, "To walk always oh uncle, oh uncle"), "Calhau com dois olhos" ("Stone with two eyes")", "Boa como o milho" ("As good as corn") ou "Quanto é o tombo?" ("How much is the fall?").
Em português idiomático, aquelas expressões significam, respetivamente, "sempre afoguedado", "pouco inteligente", "rapariga atraente" e "quanto custa".
João Carlos Brito considera que "alguns destes termos e expressões, com alto grau de probabilidade, nasceram no Porto, outros foram assimiladas", fruto de trocas culturais e linguísticas, e outros ainda são "arcaísmos que foram modificados".
"O Dicionário de PORTOguês-Inglês não é apenas uma obra indispensável para quem ama o Porto. É também obrigatória para todos os que não sabem o que perdem por não amar aquela que é uma cidade carismática, com alma imensa, gente que sabe receber e que possui uma forma de comunicar única no mundo: o PORTOguês", acrescentou.
Os autores, todos ligados profissionalmente ao ensino, creem que este trabalho contribui para a "afirmação e identidade do acervo linguístico dos portuenses e poderá vir a ser mais uma ferramenta interessante na aprendizagem da língua inglesa, numa perspetiva de atualidade linguística".
Sustentam também que o dicionário poderá ser útil para os turistas que visitam o Porto, os quais podem assim tomar contacto com a "riqueza e diversidade lexical" local.
O dicionário contém ainda os capítulos temáticos Comes & Bebes, Estórias da História e Sobre Futebol, que, de acordo com os autores, "proporcionam uma visão geral e pragmática dos conteúdos abordados, funcionando como um roteiro linguístico da cidade".
Professor bibliotecário na Escola Secundária de Gondomar, João Carlos Brito já lançou livros num registo semelhante, como Heróis à Moda do Porto e Heróis à Moda da Bola, este em coautoria.
Ler mais: http://visao.sapo.pt/tem-a-certeza-que-sabe-falar-portogues=f826337#ixzz3h180ljgR
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autoria Sandra P. às 17:48
Quinta-feira, 23.07.15
Pode ser um bocado controverso pois algumas pessoas podem achar que 7 namorados é demais e outras podem achar muito pouco mas de qualquer forma deixo a dica dos 7 tipo de homens que devemos namorar pelo menos uma vez ;)
Aqui ficam:
1 Alguém que saiba muito sobre qualquer coisa
Pronto, aqui é óbvio: mesmo que não seja o homem da sua vida, pode sempre aproveitar para ficar a saber mais qualquer coisa sobre estrelas, literatura, produção de morangos ou o Kurt Cobain. Claro que se ele for professor de física de partículas e nós formos simples mortais, há pouca probabilidade de aproveitarmos muito, mas mesmo assim há sempre qualquer coisa a aprender, pelo menos enquanto ele não disser coisas como ‘vais sair nessa figura?’ ou começar a embirrar com a maneira como comemos a sopa.
2 Alguém que saiba muito pouco sobre o que quer que seja
É relaxante porque mesmo que não se possa levar a nenhum sítio não temos aquela angústia de achar que devíamos pelo menos fingir que somos mesmo barra a qualquer coisa. O problema é que o Que Não Sabe Nada pode pertencer a dois tipos: o Encantador, que não sabe nada mas é um coração de oiro, e o idiota, que não sabe nada mas acha que sabe tudo. Convém namorar apenas o primeiro tipo, ou então namorar o segundo apenas na ótica do ‘este idiota ensinou-me que não se deve namorar idiotas’ (ver Caixa).
3 O Betinho empertigado
Ele vai levá-la imenso a conhecer sítios giros e a fazer um esforço para andar arranjadinha porque ele odeia mulheres que tenham cara de quem tem um avô que veio das barracas (se bem que barraca seja tudo abaixo do Restelo, no caso de Lisboa). Se às tantas já não aguenta dizer-lhe ‘Ó Bernardo Maria, o menino acha que devo fazer isto ou aquilo?’, nem a cena de dar um solitário beijinho a todos os amigos dele e tratar toda a gente por tio e tia, ou vê-lo a levantar a sobrancelha porque disse qualquer coisa que não devia na missa, o namoro pode não durar, mas enquanto dura aproveite para deitar fora aquelas camisas de licra aos losangos que tem no armário e que a verdade é que nunca fizeram nada pela sua felicidade.
4 O Fanático do Desporto
Ainda o sol ressona e já ele se levantou, sempre radioso, e gritou: – Anda daí, Patrícia Isabel, vamos saudar o sol – ‘Saudar o sol’ é código para 246 voltas ao quarteirão em corrida acelerada, mas isso só se descobre tarde demais. Lá nos arrastamos atrás dele, que pula como um veado na savana com toda a energia que nós nunca tivemos nem temos qualquer esperança de vir a ter. Mas pronto, como o amor é lindo e ele também, lá vamos atrás. Fazemos jogging ainda o sol não se levantou, levantamos pesos no ginásio, vamos com ele ao Body Pump, ao Spartans e ao Crossfit, descobrimos o que é um lunge e ao fim de semana participamos numa aula de surf para iniciados. Resultado: ao fim de um mês estamos lindas, magras e musculadas (ainda que cheias de sono). E aí, ou descobrimos que ele é o homem da nossa vida mas lhe dizemos que de vez em quando gostaríamos de ficar em casa a ver a ‘Anatomia de Grey’ mesmo sem o Dr. McDreamy enquanto ele vai alombar pesos, ou então dizemos-lhe: ‘Olha, Zé Manel, tenho de ser honesta contigo, do que eu gosto mesmo é de Zumba’ e está tudo acabado entre vocês. Enfim, a boa notícia é que pode voltar a dormir até às 12h ao sábado.
5 Alguém que sempre disse que NUNCA namoraria
O quê, o primo do Toino? Que é vesgo, tem uma poupa de ave-do-paraíso, alimenta o sonho de ser cantor pimba e falta-lhe um dente da frente? (inda se fosse o lá de trás, como na Linda Falua). Não seja preconceituosa. Sabe o que acontece aos preconceituosos? Nunca descobrem mundos novos. Está bem, já está a dizer que o primo do Toino não é um mundo para onde lhe apeteça viajar, é lá consigo. Mas pode ter uma surpresa. Pode descobrir que ele é um rapaz divertido, encantador, meigo, carinhoso, e com quem até se pode ter uma conversa bastante interessante. Ah, e canta que nem um anjo.
Enfim. Ou não. Mas se não, pode sempre dizer ‘olha afinal eu tinha razão’, o que é bom para a nossa autoestima.
6 O Fotógrafo Amador
Já se está mesmo a ver porquê, não é? ‘Ó Maria Rita, podias-te pôr aí contra essa porta/prado/almofada/pôr do sol? De repente, mesmo quem sempre se achou o patinho feio da família se transforma numa diva. Ele adora tudo em nós: a curva do queixo, a curva da cintura, a curva do cotovelo. Tudo são curvas perigosas. Vantagem: mesmo que o romance não dure, você fica com uma quantidade incrível de provas da sua beleza e sensualidade. Desvantagem: cuidado, que ele também.
7 A sua alma gémea
Namorar alguém que não tem nada a ver consigo ensina-lhe que há muito mais na vida que aquilo que faz parte do seu mundo. Mas namorar alguém igual a si pode ser igualmente instrutivo. É um descanso ter as mesmas ideias, os mesmos interesses, o mesmo ritmo de vida. Que sossego! Desvantagem: o sossego pode transformar-se num deserto, se não descobrirem qualquer coisa para dar um ao outro.
Ler em: http://activa.sapo.pt/sexo/2015-07-19-7-Homens-que-deve-namorar-pelo-menos-uma-vez
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autoria Sandra P. às 08:51
Terça-feira, 21.07.15
É MITO ;)
Um estudo sobre atração, conduzido por investigadores daUniversidade do Texas e da Universidade de Northwestern, nos EUA, descobriu que os interesses amorosos por pessoas mais atraentes do que nós não acabam necessariamente em falhanço. Bem pelo contrário: as probabilidades de namorarmos com alguém fisicamente mais atraente aumentam, se os dois forem amigos ou se conhecerem já há algum tempo. Ou seja, aquela máxima do "está fora do meu campeonato" não é tão verdade quanto se possa pensar.
O estudo, que contou com 167 casais, analisou um fenómeno conhecido por "acasalamento seletivo", no qual as pessoas tendencialmente procuram namorar ou casar com pessoas com características semelhantes às suas. Avaliaram se os elemento do casal se conheciam antes do relacionamento e também se já tinham umarelação de amizade. Apesar de (felizmente) a atração física ser um conceito muito subjetivo, os investigadores contaram também com avaliações independentes do grau de atratividade dos sujeitos envolvidos no estudo.
A pesquisa concluiu os casais que se conheciam há mais tempo antes de começarem a namorar, apresentam mais frequentemente uma discrepância maior em termos de atratividade – ou seja, um deles é fisicamente muito mais atraente do que outro.
"Se você se sentir atraído por alguém que está fora 'do seu campeonato' (pelo menos em termos de atratividade), a possibilidade de ter sucesso com essa pessoa é maior se a conhecer já há algum tempo" disse a responsável pela pesquisa, Lucy L. Hunt, doDepartamento de Desenvolvimento Humano e Ciências da Família da Universidade do Texas. "No entanto, conhecer alguém ao longo do tempo pode melhorar a impressão de que a pessoa tem de si ou piorá-la."
Se esta é uma boa notícia para quem está "de olho" num amigo com quem acha que não tem hipóteses, é importante referir que este é um estudo pequeno e Hunt está "ansioso para continuar a fazer mais investigações sobre o tema".
"Eu acho que os resultados deste estudo sugerem que é importante analisar o processo de iniciação de relacionamento e o processo de manutenção, em conjunto e não como dois fenómenos distintos", concluiu Hunt ao "The Huffington Post".
Ler em: http://activa.sapo.pt/sexo/2015-07-03-Ele-e-demasiado-bonito-para-se-apaixonar-por-mim-e-mito-afirmam-cientistas-
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autoria Sandra P. às 11:49
Quinta-feira, 16.07.15
bOM DIA, bOM DIA..
A jornalista Andreia Vale lançou o livro "Puxar a Brasa à Nossa Sardinha", em que analisa a origem de mais de 200 expressões populares portuguesas.
A Visão pediu à autora para selecionar e explicar a história das suas 10 favoritas, que aqui se seguem...
Convém realçar que é sempre interessante sabermos a razão das expressões que utilizamos no nosso dia-a-dia ;)
A expressão existe em espanhol ("arrimar el ascua a su sardina"). Pensa-se que a origem da expressão é antiga e é atribuída às sardinhas que os trabalhadores nos cortiços (pequenas casas habitadas por muitas pessoas) comiam. Para assarem essas sardinhas, recorriam às brasas dos candeeiros que serviam de iluminação doméstica. Retirar (puxar) as brasas para assar as sardinhas apagava essas fontes de luz nas casas.
Desde os primeiros tempos da monarquia portuguesa que há registos e referências à pesca da sardinha e de como este peixe fazia parte da alimentação da população pobre de Lisboa, mais do que a comida fresca, salgada ou defumada. Existiam lugares de frigideiro, uns poisos ambulantes onde, à hora das refeições, se assavam sardinhas e é de imaginar que também aqui cada um tentava puxar a brasa à sua sardinha.
Não há uma explicação certa para a origem da expressão, mas uma das duas versões plausíveis é a de que os carapaus, mesmo sendo uma espécie de peixe que é rápida, acabam apanhados nas redes de pesca. Podemos daqui deduzir que mesmo os melhores - ou os que se acham melhores - e armados em espertos podem acabar por ser apanhados ou desmascarados.
Outra versão alega que a expressão pode ter nascido nas lotas, onde o peixe era vendido em leilões invertidos. Começava por se anunciar um preço mais alto e depois ia-se descendo até que alguém o comprasse. O peixe mais caro e de melhor qualidade era vendido em primeiro lugar e para o fim ficavam os peixes de menor qualidade. Conta-se que as peixeiras que compravam esse peixe de fim da lota, mais barato, iam a correr até à vila, para tentarem chegar ao mesmo tempo que as primeiras peixeiras, que já lá estavam a vender o peixe mais caro e de melhor qualidade. As peixeiras que chegavam em último tentavam assim enganar os clientes vendendo o peixe ao mesmo preço que as outras. Só que nem todos se deixavam enganar por esta esperteza saloia: alguns fregueses percebiam que aquele era... "carapau de corrida", um peixe de menor qualidade.
A origem da expressão - que na verdade significa dividir uma despesa por várias pessoas, em partes iguais -, estará nas primeiras décadas do século xx, quando, no Brasil, os clubes de futebol e os jogadores não tinham receitas financeiras. Os adeptos juntavam-se numa colecta de fundos para assim conseguirem premiar os jogadores em caso de vitória. A quantia do prémio tinha o nome de um dos animais no jogo do bicho, uma bolsa ilegal de apostas em números que representam animais, que ainda hoje existe no Brasil. Assim, cinco mil réis correspondia ao "prémio do cão", porque esse animal representa o cinco no jogo do bicho. O prémio máximo era de vinte e cinco mil réis, na altura - ainda hoje o número da vaca é o 25.
Se os romanos se tivessem lembrado de suplicar às paredes, talvez pudessem ter tido mais sorte. É que as paredes têm ouvidos. A expressão serve para dizer a alguém que é melhor falar mais baixo, sob pena de ser escutado por quem está à volta. A culpa é de uma mulher, Catarina de Médicis, nobre italiana e rainha consorte de França no século xvi, por casamento com Henrique II. Mulher astuciosa e sedenta de poder, durante mais de 50 anos exerceu o poder através do marido e dos três filhos que chegaram a monarcas: Francisco II, Carlos IX e Henrique III. Consta que, para manter o controlo sobre tudo, usava várias artimanhas. A mais célebre terá sido a de ter ligado, por tubos acústicos secretos, as salas do palácio real, o Louvre, para poder ouvir tudo o que se dizia nos locais mais afastados. Deu ouvidos às paredes e reinou até morrer.
A história do templo de Santa Engrácia, perto do Campo de Santa Clara - mais conhecido hoje em dia como o Panteão Nacional -, começa no século xvi, com a infanta D. Maria. Filha do rei D. Manuel e da sua terceira esposa, D. Leonor, chegou a ser a mulher mais rica de Portugal no seu tempo. A sua instrução e virtudes ganharam fama, teve muitos pretendentes, mas morreu solteira, sem deixar filhos. Dedicou a vida à Igreja, fundou vários conventos e, entre as várias obras que patrocinou, estava a Igreja de Santa Engrácia, que mandou construir em 1568.
O problema foi que se seguiram 300 anos de peripécias... Uma tempestade praticamente destruiu o edifício em 1681 e, nos séculos seguintes, houve várias alterações de planos. Desde falta de dinheiro à falta de interesse ou de mão-de-obra, houve tudo e mais um par de botas para justificar a demora nas obras... Ainda inacabada, a Igreja de Santa Engrácia passou a ter estatuto de monumento nacional em 1910, e em 1916 tornou-se o Panteão Nacional. A obra só se completou por ordem de Salazar, quase 300 anos depois, em 1966!
Só isto justifica a expressão, mas existe uma outra versão, mais romântica.
No primeiro mês do ano de 1630, um cristão-novo de nome Simão Pires Solis é acusado de profanar o templo e de roubar as hóstias do relicário da capela-mor. Reza a lenda que o homem tinha sido visto a rondar a igreja na noite do assalto, montado num cavalo que tinha os cascos embrulhados em panos, para que não fizessem barulho. Simão Solis jura inocência, mas acaba por ser queimado vivo no Campo de Santa Clara. Na hora da morte, lança uma maldição à igreja ainda em construção, clamando: "É tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem." Mais tarde, descobriu-se a verdadeira razão da presença de Solis perto da igreja naquela noite: o rapaz afinal apenas esperava por Violante, filha de um fidalgo e noviça no Convento de Santa Clara? Apaixonados, teriam fugido...
- Até vir a mulher da fava rica
"Olha a fava riiiiiiiiica!" foi dos últimos pregões a ouvir-se em Lisboa, já o século XX tinha começado. Estas frases gritadas, com que os vendedores ambulantes anunciavam os seus produtos, soavam nas ruas da capital logo às primeiras horas da manhã. As mulheres que apregoavam a fava rica percorriam alguns dos bairros mais populares da cidade, como a Graça ou a Madragoa, de panela à cabeça, e o pregão servia para anunciar a sopa quente de fava que vendiam para confortar os estômagos de quem se levantava cedo para ir trabalhar. Ou de quem estava a chegar a casa depois de uma noite de trabalho. A sopa era tão boa que havia mesmo quem não se importasse de esperar - às vezes muito - que chegasse a mulher da fava-rica. Consta que valia a pena!
Os ingredientes da receita incluíam fava seca, demolhada durante longas horas, cozida e depois refogada com azeite e alhos. Da história do pregão só resta mesmo a memória e a expressão.
No período das Descobertas, os portugueses chamaram coco a um novo fruto que encontraram porque, visto de um certo ângulo, parecia a cara de um monstro imaginário com que se assustava as crianças, uma espécie de bicho-papão - ao qual também se dava o nome de coco. É o que conta o historiador João de Barros nas Décadas da Ásia: "[...] por razão da qual figura, sem ser figura, os nossos lhe chamaram coco, nome imposto pelas mulheres a qualquer coisa, com que querem fazer medo às crianças, o qual nome assim lhe ficou, que ninguém lhe sabe outro [...]." Se o fruto fosse usado para representar o monstro, percebe-se a alegria das crianças quando o coco era partido. Entre as várias interpretações, assim como o coco assustava, a lenda conta que a representação feminina, a coca, ficava atenta às crianças mais desobedientes, à espera que se portassem mal... ficava por isso "à coca".
- Tirar o cavalinho da chuva
O cavalo é um dos meios de transporte mais antigos do mundo. Na era medieval, a maneira como alguém amarrava o cavalo ao chegar ao destino - na rua, ou não - era revelador da sua intenção: se um visitante ou viajante deixava o cavalo num sítio abrigado, era sinal de que a paragem ia ser longa. Se o deixava à porta, no exterior, e, logo, sujeito a eventuais intempéries, significava que não tencionava demorar-se muito, que a estada deveria ser curta. Portanto, para estadas mais prolongadas ou tarefas mais complicadas, seria melhor abrigar o cavalo - tirá-lo da chuva.
Joana foi uma mulher que viveu no século XIV. Era condessa de Provença e rainha de Nápoles. A biografia diz que em 1347, aos 21 anos, regulamentou os bordéis da cidade de Avignon, para onde fugiu depois de (há duas versões) ter sido acusada do assassínio do marido ou excomungada pela Igreja devido à vida desregrada que levava. Uma das normas dizia: o lugar terá uma porta por onde todos possam entrar. "Casa da mãe Joana" passou a ser sinónimo de uma casa de prostituição.
A expressão virá desde o século XIII, quando os fidalgos na Península Ibérica podiam pedir uma indemnização por calúnia ou injúria no valor de 500 soldos. Em caso de reincidência, eram outros 500. Sobre esta expressão há ainda uma interpretação com traços de piada: um homem vem do interior do país para tentar a sorte na capital e deixa quinhentos mil réis para o padre guardar. Depois de vários anos sem aparecer, voltou e foi pedir o dinheiro. O padre, que o tinha gasto na reforma da igreja, alegou que não tinha ficado com o dinheiro. O homem protestou e um coronel que ouvia a conversa afirmou: "Foi comigo que você deixou o dinheiro." Ao que o homem respondeu: "Isso são outros quinhentos, coronel!"
Ler mais: http://visao.sapo.pt/de-onde-vem-a-expressao-carapau-de-corrida=f825481#ixzz3fngjxWVW
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autoria Sandra P. às 08:10
Terça-feira, 14.07.15
UPS!!
Mas que bela novidade... Uma pouca vergonha!!!
Segue a notícia:
Jobs for their boys: 75% dos dirigentes públicos nomeados pelo governo são militantes do PSD e CDS
Uma investigação da RTP descobriu que 3 em cada 4 dirigentes da administração pública nomeados nesta legislatura são militantes dos partidos do governo. Passos Coelho tinha prometido acabar com os jobs for the boys, mas aí estão os boys e as girls em força.
O caso mais badalado da reportagem envolve o Ministro da Segurança Social e vice presidente do CDS-PP Mota Soares, que nomeou 28 dirigentes públicos de uma assentada para os centros da Seg. Social de todo o país.
Mais tarde, já com a comissão de fiscalização dos processos de recrutamento na Administração Pública (CRESAP), Mota Soares ignora o processo de recrutamento de 13 dirigentes da Segurança Social para manter lá os seus, contra a lei e a Constituição. E ainda fez subir a dirigente máxima do Instituto da Segurança Social, órgão que gere todos os apoios sociais, uma antiga assessora de imprensa do CDS, licenciada em marketing.
Mota Soares e Paulo Portas são a ponta do iceberg de uma prática comum no governo e no Estado e que abre portas à corrupção.
Ler em : http://www.precarios.net/?p=12664
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autoria Sandra P. às 07:59
Domingo, 12.07.15
Fica aqui a crónica do António Costa sobre as alternativas para formar governo que possuimos em Portugal: Passos Coelho vs Costa.
Quem quiser consular fica aqui: http://economico.sapo.pt/noticias/entre-passos-e-costa-quem-escolhia-para_223319.html
Se Costa ganha a Passos, perde várias vezes para a terceira via, quando os portugueses não acreditam nem em um, nem em outro.
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autoria Sandra P. às 07:57
Sexta-feira, 10.07.15
Paulo Vieira da Silva chegou afogueado a um restaurante da zona das Antas, no Porto.
Vinha sorridente, bloco de apontamentos na mão, e quis ficar de frente para a porta. "Tenho amigos que percebem disto, não vá o Diabo tecê-las", justificou. Depois respirou fundo. Estaria indisponível para declarações ou 15 minutos de fama. Mas explicaria o que o movia, "em nome de um futuro melhor para os nossos filhos".
Desconhecido dos portugueses até há semanas, Paulo é militante e ex-dirigente do PSD no distrito, católico praticante e empresário. Saiu do quase anonimato aos 42 anos para denunciar à Justiça "o alpinista político", vice-presidente do partido, Marco António Costa, os "seus homens de mão" e a sua "rede". A tese, vertida para sete páginas e enviada ao Ministério Público em finais de abril, é esta: Marco promoveu o "tráfico de influências" e enriqueceu "sem olhar a meios". A Procuradoria abriu o inquérito 567/15.9TELSB, atualmente em curso na 12.ª secção do DIAP do Porto.
O texto da denúncia foi viral nas redes sociais. Os principais visados reagiram com honra ferida e desdém. Marco anunciou uma queixa-crime, o deputado Miguel Santos resume o caso a "teorias da conspiração" e o secretário de Estado Agostinho Branquinho não pretende perder tempo com o assunto. "Ouvir o Paulo a falar do PSD é a mesma coisa que ouvir o emplastro a dar palpites sobre o FC Porto", reagiu Virgílio Macedo, líder da distrital, lamentando as "alucinações".
Era uma vez em Fânzeres
Mas, afinal, quem é Marco António Costa? Naquele 18 de maio de 1967, Berta dos Santos quase não sobrevivia ao parto. Era o tempo das parteiras irem a casa, mas a pronta intervenção de um médico salvou a mãe e o rebento. Marco nasceu na Rua do Valado, a dois passos do jardim de infância que ainda pertence a familiares.
Modista de méritos reconhecidos, a progenitora casara com Nominando Costa, que construiria nova casa de família a trabalhar na Novopan, fábrica de aglomerados de madeira da SONAE. Vizinhos de outrora recordam o pai, "belíssima pessoa", e a figura tutelar da mãe, "de mau feitio, estilo posso, quero e mando". Fânzeres, em Gondomar, era então uma pálida aldeia, onde perduravam memórias da "fome de rato" e a família vivia remediada, sem luxos nem misérias. A terra inspirara capítulos de Os Fidalgos da Casa Mourisca, de Júlio Dinis. Tivera emigrantes no Brasil e padres com muitos filhos a desassossegar casamentos, mas ficara famosa pelos palacetes, pelas lavadeiras e pelo pão que todos os dias fazia chegar ao Porto.
Marquinho, chamava-lhe a mãe, cresceu a colecionar carrinhos, a sair à rua aperaltado, mas sem mimos maternos. Com a mãe dada ao lar e à rudeza, o rapaz "chegou-se" ao pai.
De samarra vestida, Marco foi a primeira vez ao cinema, ao Porto, depois dos dez anos. O filme Gremlins é um dos seus preferidos.
Ainda delira com a cena em que os bichinhos "estão a armar a maior confusão e aquele que tem uma penugem mais branca liga o interruptor e sai disparado".
Já era vereador em Valongo quando foi ao teatro, e hoje, quando os dossiês e as lides partidárias folgam, é fiel leitor de Miguel Sousa Tavares.
O formigueiro político em que o País se tornara nos primeiros anos de democracia toma conta da família. A mãe é vista por vizinhos a empunhar uma bandeira do PCP ou do MRPP, pois só a foice e o martelo perdura na memória de alguns. O pequeno Marco até andará, já espigadote, a exaltar a Constituição, mas seria apenas um detalhe perdido no tempo. A maioria da família puxava para o PPD/PSD e o miúdo rapidamente lá chegaria.
A mão de Mirita
Marco estava na pré-adolescência quando os pais se mudam para Valongo, a um sopro de distância de Fânzeres. Praticante de judo, chegaria a cinturão castanho e à seleção de juvenis. Abandona por causa da vida académica. Viria a licenciar-se em Direito e a ser visto em comícios do PSD a colocar aparelhagens de som. Já presidente da JSD concelhia, o grupo de amigos, onde se incluía o "shark tank" Rafael Koehler, presidente dos "jovens empresários ", vai ficar famoso por fazer da sede do partido, em Ermesinde, cenas à Gremlins.
"Portavam-se tão mal que foram proibidos de frequentá-la", recorda o médico João Bastos, então militante. "Entravam pelo telhado, queimavam cadeiras no inverno e até roubaram uma televisão, que depois recuperámos. Um regabofe!".
Por essa altura, Marco tem o seu primeiro emprego.
Dá-lhe a mão Joaquim Silva, mais conhecido por Mirita, dono da Norteáguas, empresa de furos e captações de água que viria a ganhar contratos com a Câmara de Valongo no tempo de Marco. Nunca se soube o papel do atual porta-voz do PSD junto de Mirita, nem ele esclareceu.
Viam-no com uma pasta sempre recheada de papéis. O empresário depressa meteria dinheiro em tudo o que mexia: imobiliário, combustíveis, automóveis e, claro, política. Era um "mãos largas" para escolas, associações, coletividades, mas perseguiam-no suspeitas de andar enfarinhado em atividades ilícitas. Quando algum negócio azedava, "Mirita abria ligeiramente o casaco e mostrava o prateado da pistola ao interlocutor", descreve quem o conheceu. Em 2000, o gesto saiu pela culatra: foi assassinado após um desaguisado com um cliente. Tombou de pistola na mão, sem direito a lendas, exceto esta: "Quem se aproximar também leva", terá dito o homicida. O empresário de Sobrado faleceu no seu Mirita Park, polígono industrial erguido dos escombros da Companhia Industrial de Fibras Artificiais (CIFA), cuja construção foi licenciada quando o PSD governou a autarquia.
Marco ficara amigo do filho de Mirita.
A vida que o herdeiro Rui levava, rodeado de barcos, carros de luxo e viagens, não estava ao alcance de Marco. Iam de Ferrari para a discoteca Ars Nova, em Ermesinde, faziam viagens ao Mónaco, correram redondezas e o mundo. Agora, o filho do velho Mirita (que não conseguimos contactar, nem no escritório, nem por telemóvel) coleciona processos por fraude fiscal e as Finanças detetaram gastos luxuosos de outros tempos refletidos na contabilidade das empresas.
Marco chegou à Câmara de Valongo em 1993, à boleia da vitória surpreendente do médico Fernando Melo, ex-diretor do Hospital de Valongo e governador civil do Porto. Terá sido o antigo deputado Nuno Delerue a falar ao novo presidente do puto prometedor. A campanha, faustosa, deixara desconfianças: "Já repararam que o PSD (Valongo) e a JSD (Valongo) põem e dispõem disto tudo como donos e senhores?", questionava A Voz de Ermesinde. Melo prometia ser "um bom gestor público e não um qualquer calceteiro". Valongo é por esta altura um concelho desordenado. Outrora a "Sintra do Norte", a freguesia de Ermesinde é enclave de "separatistas", indignados com os maus cheiros e a falta de água.
Marco entra para adjunto da presidência.
Consolida desde logo a amizade com o único homem que se pode dizer que é a sua sombra: Fernando Pinto, antigo segurança da noite, seu motorista até hoje. Seu, vírgula.
Requisitado ao longo de anos sucessivos por Marco para os cargos governativos que ocupou, ao abrigo de cedências de "interesse público", Fernando teve o vencimento pago pela autarquia até 25 de julho de 2013. Depois, o grupo parlamentar do PSD requisitou-o. "Fernando? Não estou a ver. Ah, sim, o Fernando Pinto! Sim, sim! É nosso motorista, mas também anda com o doutor Marco António, claro. Ele não é deputado, mas é normal partilharmos funcionários com o partido", esclareceu Luís Montenegro, líder da bancada "laranja".
Nos primeiros anos, Marco circulava pelos gabinetes à vontade. "Foi-me bastante útil no início. Ele é que dominava a política, as guerras", recorda Fernando Melo, quase a fazer 80 anos, "afastado por razões de saúde e por ter percebido como era a política ". No partido, Marco "determinou a exclusão e afastamento de muita gente capaz e bem formada, demonstrando ser incapaz de conviver com espíritos livres e independentes ", recorda José Puig, antigo deputado e ex-líder do PSD/Valongo. Na terra começara a notar-se o vaivém de empreiteiros no edifício camarário, o "regabofe e fartar vilanagem em que se transformou a cidade", escreveu-se na Imprensa local.
"Melo era decorativo. Diretamente ou por interpostas pessoas, o Marco é que sempre mandou em tudo", refere o promotor imobiliário Arnaldo Mamede. Quando o primeiro mandato termina, as construtoras não se limitavam a ter acesso livre à autarquia: sentavam-se à mesa. Em 1997, noticiam-se jantares do PSD e do presidente com "40 construtores civis" e já abundam relatos sobre as tentativas de Marco interferir em áreas sensíveis: urbanismo, habitação, águas e saneamento. "Não tenho estômago para engolir certas coisas", desabafou à época Armando Pedroso, o vereador que sairia no final do primeiro mandato com a coroa de ter resolvido o problema da falta de água e impedir a privatização dos serviços.
"Aqueles quatro anos foram a maior desilusão da minha vida. Fiquei vacinado.
O que se passava na câmara, ao mais alto nível, era tudo menos sério", recorda o eterno comandante dos Bombeiros de Valongo.
No partido, Marco vai ganhando lastro.
"Foi o coala bebé de Filipe Menezes. Empoleirava-se, era observador e tentava aprender. Fazia tudo o que ele fazia, mas já a pensar no que faria diferente, pois já era muito mais metódico, organizado e focado ", ilustra Pinto Lobão, dirigente do PSD/ Matosinhos.
Com a vitória nas autárquicas de 1997, campanha planeada e executada por Agostinho Branquinho, Marco passou a vereador do pelouro da Qualidade de Vida, Cultura, Juventude e Turismo. Antiga jornalista da RTP, Maria José Azevedo, conheceu Valongo a palmo anos mais tarde, ao liderar uma candidatura independente à autarquia. "A Manuela de Melo, minha colega na Câmara do Porto, disse-me que o Marco era trabalhador, empenhado e acima da média no pelouro da Cultura. Carregava a autarquia às costas", recorda. "Não o conheci à época, mas as pessoas ainda tinham dele a ideia de um fazedor", resume. Para as penas laudatórias locais, Marco era "fluente, oportuno ", tinha "amigos importantes e modestos " e ia tornar-se "a maior esperança do concelho".
Quando assume as pastas, Marco faz a primeira declaração de rendimentos pública.
Tem um Citroën AX 14D com nove anos, 75 ações da EDP no valor de cinco euros, um empréstimo de 55 mil euros para a casa e ganhava pouco mais de 27 mil euros por ano. Mas os primeiros sinais de riqueza são escrutinados. No início de 1998, defende-se numa carta aberta publicada no Ecos do Concelho. Adquirira um T1 antes de chegar à câmara e vendera-o por ser pequeno após o nascimento da primeira filha. Comprara outro maior. Um terceiro, na Póvoa de Varzim, pertenceria ao pai.
A tal carta terminava com Marco a colocar as contas bancárias à disposição e com uma frase para memória futura: "A minha vida é transparente."
O 'pequeno Maquiavel'
Nem todos têm essa memória dos seus anos de Valongo, de onde saiu em 2003, quando já era vice-presidente, deputado e líder do PSD/Porto, com amizades e conquistas para a vida (ver Marco e os seis magníficos).
O Plano Especial de Realojamento (PER), que permitiu a construção de mais de 600 fogos, e a privatização das "águas" foram os grandes negócios do seu tempo autárquico. As suspeitas chegaram a tribunal, nalguns casos, até hoje.
No caso do PER, o BPN Crédito processou a autarquia por considerar que esta beneficiou a ECOP, entretanto falida, permitindo à empresa de construção receber em duplicado verbas a que não tinha direito.
Na origem do caso está uma "carta de conforto" assinada por Marco António que assumia, perante a instituição financeira, a intenção do município em adquirir 46 fogos à ECOP para habitação social. Só assim, alega o BPN Crédito, foi libertado o financiamento de 1,5 milhões de euros.
O município ganhou a causa em duas instâncias, mas, este ano, o Supremo Tribunal Administrativo acatou as razões do BPN e notificou o ex-presidente Fernando Melo e a autarquia para explicações. Nas sessões até agora realizadas, antigos administradores da ECOP assumiram proximidade com Marco e as boas relações não ofereceram dúvidas. Melo disse saber pouco ou nada.
No caso da privatização da empresa de "águas" concessionada à Générale Des Eaux e hoje nas mãos da Be Water, chinesa, um relatório do Tribunal de Contas sobre o setor considerou a concessão ruinosa para o erário público, tendo sido feita sem estudo de viabilidade económico-financeira. "O saneamento não tem cor, a água não tem cor, há é necessidades dos munícipes", proclamara Marco, nas assembleias municipais.
"A história do enriquecimento de Marco António está ligada à postura que teve em Valongo", garante Celestino Neves, deputado municipal independente. "Tudo o que fosse negócio e em que fosse possível entrar e ganhar dinheiro, ele estava lá. Depois amenizava com ajudas às coletividades e obras de beneficência", explica. "Ele aqui foi considerado uma pessoa que resolvia problemas. Mas o grande faroeste urbanístico é da época dele. Estão aí os esqueletos".
Basta circular por Valongo para perceber a legenda. Em 2012, o Público resumia o dilema futuro do concelho: ser ou não ser um "cemitério de prédios inacabados".
Alguém dirá, porém, que o povo não se queixa. "A população residente nos bairros sociais está globalmente satisfeita com a sua qualidade de vida", refere um estudo da Faculdade de Letras do Porto, de 2014, sobre o PER de Valongo.
Amigo' no 'Swissleaks'
Mas façamos marcha atrás. Entre 1998 e 2003, o executivo camarário, que Marco integrou, andou na berlinda. Exemplo disso, a comitiva de 35 pessoas que a Câmara levou a Fortaleza, no âmbito de uma geminação, levantou celeuma. Criticaram-se os gastos da autarquia endividada. Do outro lado do Atlântico, a recebê-los e a fazer a ponte com as instituições brasileiras, estava Generoso dos Santos, empresário de Sobrado (Valongo), emigrado há décadas.
Estreitaram-se então laços duradouros entre Generoso, políticos da terra, empresários e jornalistas. Outras viagens se farão ao Brasil através da Bojador, agência de viagens "oficial" do município, a que recorriam Fernando Melo, Marco António e amigos. Aos 85 anos, Generoso tem ainda negócios no Brasil e em Portugal. O empresário dá avultadas quantias para as festas de São João na sua terra, mas o momento atual não é o mais feliz: apesar dos desmentidos, Generoso, familiares e sócios constam da extensa lista de 342 nomes que o Senado brasileiro investiga a propósito do escândalo Swissleaks, suspeitos de manter contas na Suíça durante anos.
Nos jornais de Valongo, Marco começou a destacar-se em traços mais nítidos.
"Farto de ser a eminência parda da câmara, quer saltar para a ribalta." Os editoriais dizem-no então "possuidor de uma ambição desmedida". É "o pequeno Maquiavel".
Ou então o "pequeno Zaqueu", referência à personagem bíblica que "precisa de subir às árvores para ser visto". Citam-se os "boys" de Marco na autarquia. E surge a "bomba" Eduardo Madeira.
Antigo vereador socialista convertido ao PSD, depois afastado da vice-presidência, Madeira denunciou durante meses, em sessões contínuas da assembleia municipal, os "podres" da autarquia. Por considerá-la "coutada" de amigos e familiares, foi condenado por difamação. Mas uma certidão extraída do processo, suportada por documentos e denúncias de Madeira, seguiu para Valongo. Três anos depois, os jornais deram a certidão como perdida a caminho do tribunal. Verdade ou não, o caso teve até hoje o repouso dos mortos.
"Muito do que disse e denunciei à época sobre a câmara e Marco António continua válido", assume. "Mas, apesar de pensar que era minha obrigação fazê-lo, eu é que fui condenado. De qualquer modo, é um assunto encerrado na minha vida e não pretendo reavivá-lo." A última referência a este processo é uma notícia do JN de 2007, que refere o extravio da certidão.
Mas o que disse o vereador, naquelas sessões camarárias? A autarquia transformara-se no local preferido "dos corruptos, dos traficantes de influências". A privatização das "águas", disse, havia sido tratada "à revelia dos vereadores" e estranhou haver adjudicações com verbas "acima do valor base". O município esbanjava recursos em propaganda, "avenças para amiguinhos e apaniguados". Marco, esse, disse o vereador, dedicava-se "à avaliação e intermediação na venda de terrenos", sugerindo valores "e até o nome das empresas" a contactar e que, "por coincidência, têm grandes interesses na Câmara". Atribuía ainda ao atual "número dois" do PSD a gestão de um "saco azul, alimentado sempre que necessário por empresas que trabalham para a autarquia".
São desse tempo relatos de campanhas eleitorais em que terá circulado muito dinheiro, ao ponto de haver quem ironizasse, dizendo que as notas eram transportadas em caixas de sapatos. A dada altura, o médico João Bastos chegou a espantar-se: no seu tempo, "o dinheiro aparecia e sabia--se de onde vinha. Hoje no PSD, pelo que se vê, não falta dinheiro, gostava de saber de onde é que ele vem", questionou-se, em 2001. Catorze anos depois, reforça: "O homem dos negócios à volta da Câmara e do partido era o Marco. Toda a gente sabia isso", afirma o antigo histórico do PSD.
Eduardo Madeira referiu-se ainda a casos ocorridos com os clubes de futebol Ermesinde e Valonguense. Construtores civis depositavam verbas consideráveis nas contas dos clubes ou dos seus dirigentes e, dias depois, quantias semelhantes voltavam a sair, deixando os extratos reduzidos a trocos. No caso do Valonguense, Marco António Costa terá chegado a convocar uma reunião de emergência sobre o assunto com figuras próximas.
No âmbito de vários processos, a PJ fez buscas no concelho para apurar a veracidade de suspeitas. Na agência Bojador nada encontrou nos arquivos sobre as viagens dos políticos da autarquia. Nos clubes, desapareceram documentos. Na Câmara, segundo um antigo responsável do departamento de obras, atual funcionário, "é hoje impossível reconstituir todas as peças do PER". Há uns anos, no âmbito do processo Apito Dourado, escutas de conversas de Marco António com Valentim Loureiro eram também dadas como desaparecidas. "Não sei dizer se lá estão, de facto", refere o juiz António Carneiro, que julgou o caso. Escudado nas leis, autorizou o acesso da VISÃO aos 144 volumes, mas impediu a consulta das escutas.
A nova vida de Marco
Com a entrada na autarquia de Gaia, em 2005, e a liderança da distrital do Porto do PSD desde há 15 anos dividida por ele próprio, Branquinho e Virgílio Macedo, três amigos de longa data, Marco foi "enterrando " as memórias de Valongo, onde tudo começou. Esteve no Governo e agora é vice-presidente do partido, onde aufere cerca de três mil euros mensais. Na sua última declaração pública de rendimentos, de julho de 2013, o n.º 2 do PSD refere cerca de 77 mil euros de rendimento dependente e mais 16 mil de rendas prediais. Revela ainda a doação às filhas de uma moradia em Valongo, além da propriedade de dois escritórios em Lisboa. Declara um único automóvel, um VW Tiguan, mas que se encontra em usufruto da ex-mulher. Com casa em Gaia e em Lisboa, Marco é incansável na dedicação ao partido, percorrendo o País de lés a lés. Em Valongo e Gaia era, por vezes, o último a apagar a luz. Para muitos militantes e simpatizantes ele é o "Big MAC".
Apesar de insistentemente solicitado, via PSD, pela VISÃO, por mail e telefone, Marco António não respondeu às nossas tentativas de contacto nem o advogado Bolota Belchior, mas os amigos e deputados Virgílio Macedo e Miguel Santos tomam-lhe as dores, vendo-se ao espelho: "As denúncias recentes fazem de nós um bando de malfeitores. É alucinação", reage Virgílio. "A política tem um desgaste enorme na vida familiar e na saúde. Aqui não existem estratégias de grupo", refere Miguel Santos que, a par de Marco, já foi relacionado com a Maçonaria regular. O vice-presidente do PSD, de resto, frequentou a Loja Brasília, mas terá entretanto confessado a amigos a saída. Em 2012, o Expresso noticiou que Miguel Relvas e Marco foram os dirigentes contactos pelo antigo diretor da secreta externa (SIED) e alegado "maçon " Silva Carvalho "para se tentar promover ". Mas não só. Marco receberia o clipping diário do "espião" e este chegou a pedir a Miguel Santos, em junho de 2011, "alguém de jeito" para o Conselho de Fiscalização das "secretas". O deputado jurou não ter dado qualquer importância ao assunto. Meses depois, Paulo Óscar, amigo de Marco e Miguel, antigo procurador em Valongo e atualmente no DIAP do Porto, foi proposto para membro daquele órgão. Segundo o Sol, teria sido Marco a sugeri-lo ao partido. Na audição, Paulo Óscar mostrou-se contrário a um período de nojo para os espiões que quisessem abandonar os serviços e abraçar o mundo empresarial. O chumbo à sua eleição na Comissão Defesa Nacional contou com votos de deputados do PSD.
No partido do Governo existe por estes dias quem reclame uma maior atenção da Justiça a este elemento da "família": "Quando Marco, o homem que segurava a mala do telemóvel do Menezes, chega onde chegou, há algo que não bate certo.
O percurso dele tem demasiadas sombras e merecem ser investigadas", reclama Pedro Salvador, conselheiro nacional do PSD e ex-diretor da campanha de Passos à liderança.
"As suspeitas suscitadas justificam, de sobra, o integral esclarecimento dos métodos de atuação e alegadas promiscuidades de Marco enquanto dirigente partidário e titular de cargos públicos", reconhece o advogado e antigo deputado José Puig. Nisto, o silêncio do visado "só contribui para o crescimento das dúvidas".
Ler mais: http://visao.sapo.pt/como-cresceu-o-big-mac=f824432#ixzz3f7vqRgC8
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autoria Sandra P. às 08:46