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Terapias


Quinta-feira, 25.02.16

Dez coisas que toda criança com autismo gostaria que você soubesse

1) Antes de tudo eu sou uma criança.

Eu tenho autismo. Eu não sou somente “Autista”. O meu autismo é só um aspecto do meu caráter. Não me define como pessoa. Você é uma pessoa com pensamentos, sentimentos e talentos. Ou você é somente gordo, magro, alto, baixo, míope. Talvez estas sejam algumas coisas que eu perceba quando conhecer você, mas isso não é necessariamente o que você é. Sendo um adulto, você tem algum controle de como se auto-define. Se quer excluir uma característica, pode se expressar de maneira diferente. Sendo criança eu ainda estou descobrindo. Nem você ou eu podemos saber do que eu sou capaz. Definir-me somente por uma característica, acaba-se correndo o risco de manter expectativas que serão pequenas para mim. E se eu sinto que você acha que não posso fazer algo, a minha resposta naturalmente será: Para que tentar?

 

 

2) A minha percepção sensorial é desordenada.

Interação sensorial pode ser o aspecto mais difícil para se compreender o autismo. Quer dizer que sentidos ordinários como audição, olfato, paladar, toque, sensações que passam desapercebidas no seu dia a dia podem ser doloridas para mim. O ambiente em que eu vivo pode ser hostil para mim. Eu posso parecer distraído ou em outro planeta, mas eu só estou tentando me defender. Vou explicar o porquê uma simples ida ao mercado pode ser um inferno para mim: a minha audição pode ser muito sensível. Muitas pessoas podem estar falando ao mesmo tempo, música, anúncios, barulho da caixa registradora, celulares tocando, crianças chorando, pessoas tossindo, luzes fluorescentes. O meu cérebro não pode assimilar todas estas informações, provocando em mim uma perda de controle. O meu olfato pode ser muito sensível. O peixe que está à venda na peixaria não está fresco. A pessoa que está perto pode não ter tomado banho hoje. O bebê ao lado pode estar com uma fralda suja. O chão pode ter sido limpo com amônia. Eu não consigo separar os cheiros e começo a passar mal. Porque o meu sentido principal é o visual. Então, a visão pode ser o primeiro sentido a ser super-estimulado.  A luz fluorescente não é somente muito brilhante, ela pisca e pode fazer um barulho. O quarto parece pulsar e isso machuca os meus olhos. Esta pulsação da luz cobre tudo e distorce o que estou vendo. O espaço parece estar sempre mudando. Eu vejo um brilho na janela, são muitas coisas para que eu consiga me concentrar. O ventilador, as pessoas andando de um lado para o outro… Tudo isso afeta os meus sentidos e agora eu não sei onde o meu corpo está neste espaço.

 

 

3) Por favor, lembre de distinguir entre não poder (eu não quero fazer) e eu não posso (eu não consigo fazer)

Receber e expressar a linguagem e vocabulário pode ser muito difícil para mim. Não é que eu não escute as frases. É que eu não te compreendo. Quando você me chama do outro lado do quarto, isto é o que eu escuto “BBBFFFZZZZSWERSRTDSRDTYFDYT João”. Ao invés disso, venha falar comigo diretamente com um vocabulário simples: “João, por favor, coloque o seu livro na estante. Está na hora de almoçar”. Isso me diz o que você quer que eu faça e o que vai acontecer depois. Assim é mais fácil para compreender.

 

 

4) Eu sou um “pensador concreto” (CONCRETE THINKER). O meu pensamento é concreto, não consigo fazer abstrações.

Eu interpreto muito pouco o sentido oculto das palavras. É muito confuso para mim quando você diz “não enche o saco”, quando o que você quer dizer é “não me aborreça”. Não diga que “isso é moleza, é mamão com açúcar” quando não há nenhum a mamão com açúcar por perto e o que você quer dizer é que isso e algo fácil de fazer. Gírias, piadas, duplas intenções, paráfrases, indiretas, sarcasmo eu não compreendo.

 

 

5) Por favor, tenha paciência com o meu vocabulário limitado.

Dizer o que eu preciso é muito difícil para mim, quando não sei as palavras para descrever o que sinto. Posso estar com fome, frustrado, com medo e confuso, mas agora estas palavras estão além da minha capacidade, do que eu possa expressar. Por isso, preste atenção na linguagem do meu corpo (retração, agitação ou outros sinais de que algo está errado).
Por um outro lado, posso parecer como um pequeno professor ou um artista de cinema dizendo palavras acima da minha capacidade na minha idade. Na verdade, são palavras que eu memorizei do mundo ao meu redor para compensar a minha deficiência na linguagem. Por que eu sei  exatamente o que é esperado de mim como resposta quando alguém fala comigo. As palavras difíceis que de vez em quando falo podem vir de livros, TV, ou até mesmo serem palavras de outras pessoas. Isto é chamado de ECOLALIA. Não preciso compreender o contexto das palavras que estou usando. Eu só sei que devo dizer alguma coisa.

 

 

6) Eu sou muito orientado visualmente  porque a linguagem é muito difícil para mim.

Por favor, me mostre como fazer alguma coisa ao invés de simplesmente me dizer. E, por favor, esteja preparado para me mostrar muitas vezes. Repetições consistentes me ajudam a aprender. Um esquema visual me ajuda durante o dia-a-dia. Alivia-me do stress de ter que lembrar o que vai acontecer. Ajuda-me a ter uma transição mais fácil entre uma atividade e outra. Ajuda-me a controlar o tempo, as minhas atividades e alcançar as suas expectativas. Eu não vou perder a necessidade de ter um esquema visual por estar crescendo. Mas o meu nível de representação pode mudar. Antes que eu possa ler, preciso de um esquema visual com fotografias ou desenhos simples. Com o meu crescimento, uma combinação de palavras e fotos pode ajudar mais tarde a conhecer as palavras.

 

 

7) Por favor, preste atenção e diga o que eu posso fazer ao invés de só dizer o que eu não posso fazer.

Como qualquer outro ser humano não posso aprender em um ambiente onde sempre me sinta inútil, que há algo errado comigo e que preciso de “CONSERTO”. Para que tentar fazer alguma coisa nova quando sei que vou ser criticado? Construtivamente ou não é uma coisa que vou evitar. Procure o meu potencial e você vai encontrar muitos! Terei mais que uma maneira para fazer as coisas.

 

 

8) Por favor, me ajude com interações sociais.

Pode parecer que não quero brincar com as outras crianças no parque, mas algumas vezes simplesmente não sei como começar uma conversa ou entrar na brincadeira. Se você pode encorajar outras crianças a me convidarem a jogar futebol ou brincar com carrinhos, talvez eu fique muito feliz por ser incluído. Eu sou melhor em brincadeiras que tenham atividades com estrutura começo-meio-fim. Não sei como “LER” expressão facial, linguagem corporal ou emoções de outras pessoas. Agradeço se você me ensinar como devo responder socialmente. Exemplo: Se eu rir quando Sandra cair do escorregador não é que eu ache engraçado. É que eu não sei como agir socialmente. Ensine-me a dizer: “você esta bem?”

 

 

9) Tente encontrar o que provoca a minha perda de controle.

Perda de controle, “chilique”, birra, mal-criação, escândalo, como você quiser chamar, eles são mais horríveis para mim do que para você. Eles acontecem porque um ou mais dos meus sentidos foi estimulado ao extremo. Se você conseguir descobrir o que causa a minha perda de controle, isso poderá ser prevenido – ou até evitado. Mantenha um diário de horas, lugares pessoas e atividades. Você encontrar uma seqüência pode parecer difícil no começo, mas, com certeza, vai conseguir. Tente lembrar que todo comportamento é uma forma de comunicação. Isso dirá a você o que as minhas palavras não podem dizer: como eu sinto o meu ambiente e o que está acontecendo dentro dele.

 

 

10) Se você é um membro da família me ame sem nenhuma condição.

Elimine pensamentos como “Se ele pelo menos pudesse…” ou “Porque ele não pode…” Você não conseguiu atender a todas as expectativas que os seus pais tinham para você e não gostaria de ser sempre lembrado disso. Eu não escolhi ser autista. Mas lembre-se que isto está acontecendo comigo e não com você. Sem a sua ajuda a minha chance de alcançar uma vida adulta digna será pequena. Com o seu suporte e guia, a possibilidade é maior do que você pensa. Eu prometo: VAI VALER A PENA.

E, finalmente três palavras mágicas: Paciência, Paciência, Paciência. Ajudam a ver o meu autismo como uma habilidade diferente e não uma desabilidade. Olhe por cima do que você acha que seja uma limitação e veja o presente que o autismo me deu. Talvez seja verdade que eu não seja bom no contato olho no olho e conversas, mas você notou que eu não minto, roubo em jogos, fofoco com os colegas de classe ou julgo outras pessoas? É verdade que eu não vou ser um Ronaldinho “Fenômeno” do futebol. Mas, com a minha capacidade de prestar atenção e de concentração no que me interessa, eu posso ser o próximo Einstein, Mozart ou Van Gogh. Eles também eram autistas.Talvez um dia iremos encontrar uma possível resposta para o alzheim ou para o enigma da vida extraterrestre – O que o futuro tem guardado para crianças autistas como eu, está no próprio futuro. Tudo que eu posso ser não vai acontecer sem você sendo a minha Base. Pense sobre estas “regras” sociais e se elas não fazem sentido para mim, deixe de lado. Seja o meu protetor seja o meu amigo e nós vamos ver até onde eu posso ir.
CONTO COM VOCÊ!!!

A tradução do texto foi realizada por Andréa Simon do site autismo.com.br



Ler mais: http://www.psicologiasdobrasil.com.br/dez-coisas-que-toda-crianca-com-autismo-gostaria-que-voce-soubesse/#ixzz3wIpD89EL

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autoria Sandra P. às 07:40

Sexta-feira, 22.01.16

Terapia Eletro-Convulsiva

Quando se menciona "Eletrochoque”, muitos relembram de imediato o filme “Voando sobre um ninho de cucos” de Milos Forman, de 1975, e sobretudo o personagem superiormente interpretado por Jack Nicholson, sucessivamente castigado pela sua irreverência e inconformidade pela sádica enfermeira Mildred Ratched (Louise Fletcher).

Mesmo para quem não leu o romance original de Ken Kesey, escrito em 1962, ou viu o filme de Forman, a ideia de eletrochoque remete para uma forma bárbara e antiga de intervenção psiquiátrica com uma simbologia mais associada a castigo e submissão do que a uma forma de tratamento.

A narrativa antipsiquiátrica dos anos 60 contida no romance de Ken Kesey e no filme de Milos Forman casava perfeitamente com o ideário filosófico deSzasz e Foucault que consideravam a psiquiatria como uma pseudociência ao serviço do controlo social do pensamento, do comportamento e da liberdade de pessoas que expressassem a sua diferença e rebeldia face aos poderes dominantes. O electrochoque seria assim o meio exemplar dessa finalidade repressiva e primitiva.

Por estar razões, a Psiquiatria, durante mais de duas décadas, abandonou ou, pelo menos, foi envergonhadamente escondendo esta intervenção por Electroconvulsivoterapia. Assim, muitos milhares de doentes viram-se privados de um tratamento muito seguro e eficaz, com indicação para formas muito severas de doença mental que na maioria dos casos não têm outras alternativas terapêuticas.

Hoje, a Electroconvulsivoterapia, praticada em meio hospitalar, sob anestesia, e num contexto de “Sala Cirúrgica”, nada tem de bárbaro, permite uma melhoria acentuada e rápida dos doentes deprimidos mais graves, de doentes com esquizofrenia ou depressão catatónica e é, seguramente, o melhor tratamento para todos aqueles com intenção suicidária incoercível.

Comparando com outras intervenções médicas, de grande valor diagnóstico e/ou terapêutico, a Electroconvulsivoterapia é um ato menos cruento e de menor risco que uma Broncoscopia ou uma Colonoscopia. No entanto, como se explicitou atrás, a “carga estigmatizada” sempre associada à doença mental e à psiquiatria quase extinguiu este tratamento das opções para os doentes com as mais severas formas de sofrimento mental durante demasiado tempo.

Quando hoje indico alguém para Electroconvulsivoterapia, proponho ao próprio e à família que consultem a informação disponível na Internet, para além, obviamente, das explicações que dou e do direito à consulta de uma segunda opinião, fundamentado-se assim o consentimento informado para a intervenção.

Parece-me, assim, importante contribuir para reabilitar publicamente este “velho” tratamento introduzido pelos italianos Ugo Cerletti e Lucio Bini nos anos 30. Se ninguém contesta o valor salvador da corrente elétrica de alta intensidade no tórax para reverter uma paragem cardíaca que pode trazer uma pessoa da morte eminente à vida, porquê contestar o valor salvador de corrente eléctrica de baixa intensidade, sob anestesia, no crânio, que possa salvar a vida de um doente com intenção suicida.

Garantidamente a Electroconvulsivoterapia não muda personalidades nem “amolece” pessoas. Na pior das hipóteses pode deixar a pessoa com as suas capacidades de memória diminuídas temporariamente. Mas este efeito adverso é, afinal, um preço baixo a pagar face ao benefício que estes tratamentos trazem.

Na verdade, o “reset” restaurador do ambiente electrofisiológico cerebral que a electroconvulsivoterapia produz e que constitui o seu mecanismo de ação terapêutico não deverá ser questionado só porque ainda hoje alguns países indevidamente autorizam o uso pelas suas polícias, de eléctrodos semelhantes aos dos aparelhos de eletrochoques, nos músculos periféricos, para provocar dores nos prisioneiros que torturaram.

Aprendemos com Guantanamo que a água que necessitamos para viver é também a forma mais eficaz de tortura. Certamente não deixaremos de beber água.

 

http://visao.sapo.pt/opiniao/bolsa-de-especialistas/2015-12-27-Electro-convulsivo-terapia-Um-velho-tratamento-reabilitado

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autoria Sandra P. às 08:01

Quarta-feira, 15.04.15

Ainda sobre o Dia Mundial da Saúde

Bem hoje deixo esta mensagem da OPP (Ordem dos Psicólogos Portugueses) a propósito do Dia Mundial da Saúde. Está muito bem argumentaa e fundamentada e é contra o estigma da Saúde Psicológica... Aqui vai:

 

No âmbito do Dia Mundial da Saúde:

"Manifesto Anti-Estigma

Basta de discriminação e estigmatização das pessoas com problemas de Saúde Psicológica. Basta!

O estigma causa medo, desconfiança e discriminação. O estigma impede as pessoas de procurar a ajuda de que precisam. O estigma separa famílias e amigos.

Abaixo o estigma!"

Um em cada cinco portugueses tem um problema de Saúde Psicológica. Por isso, é muito provável que nós, um dos nossos amigos, colegas ou familiares venham a experienciar um problema de Saúde Psicológica. Apesar disso, a Saúde Psicológica está rodeada de preconceito, ignorância e medo.

O mesmo não acontece com a Saúde Física. Perante um amigo que nos diz que teve um AVC, nunca nos lembraríamos de dizer "Se teve um AVC é porque é fraco!". Se um familiar nos conta que tem um cancro, não nos passa pela cabeça dizer-lhe "É só um cancro, isso passa!". No entanto, é frequente ouvirmos dizer que as pessoas que têm um problema de ansiedade ou depressão "estão a fazer fita", "não têm força de vontade" ou "precisam é de relaxar".

Muitas vezes, os problemas de Saúde Psicológica são desvalorizados e encarados como caprichos, preguiça ou falta de carácter: 75% das pessoas com problemas de Saúde Psicológica são alvo destes e doutros preconceitos.

cit in https://www.facebook.com/ordemdospsicologos/posts/866476813408712

 

Então agora vamos lá acabar com o PRECONCEITO ( um "juízo" preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma atitude "discriminatória" perante pessoas, lugares ou tradições considerados diferentes ou "estranhos". Costuma indicar desconhecimento pejorativo de alguém, ou de um grupo social, ao que lhe é diferente.) e deixar de apontar o dedo ás pessoas com doença psicológica/mental.

Porque não mudarmos a nossa atitude e passarmos a integrar estas pessoas na sociedade? Fora a discriminação!!

Vamos ser mais compreensivos e entender que aquela pessoa ao lado que está a ter um ataque de pânico e não um AVC como pensamos no inicio não está fazer uma FITA para chamar á atenção para que tenham pena de si mas aquela pessoa está em real sofrimento e precisa da nossa ajuda e compreensão. Porque não ajudá-la com uma respiração diafragmática? Porque não acalmá-la e explicar que está a ter um ataque de pânico mas para ter calma porque estamos ali do seu lado e iremos auxiliá-la e não a abandonaremos... E quem fala do pânico fala da depressão, das fobias, entre outras...  

Infelizmente ainda existem por exemplo profissionais de saúde com este tipo de estigma mas felizmente os mais novos estão mais conscienciosos para esta problemática.

A propósito do ataque de pânico na segunda-feira quando cheguei a casa estava a dar a novela Alto Astral na SIC e o ator Kayky Brito estava a ter um ataque de pânico muito real, muito bem representado... Talvez a inserção da doença mental nas novelas, séries e filmes ajude a reduzir o ESTIGMA!!!

 

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autoria Sandra P. às 09:00


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